sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Super-Heróis DC 3 - Batman: A Corte das Corujas

Este foi o primeiro editorial que escrevi para esta colecção. Como de costume, podem ler o editorial logo a seguir e o texto de apresentação que fiz para o Público, pode ser lido carregando na respectiva imagem.


O MORCEGO E AS CORUJAS

Ao longo dos mais de setenta e cinco anos que o Cruzado de Capa já leva de aventuras, poucos terão sido os autores a deixarem uma marca tão perene no Batman, como a dupla Scott Snyder e Greg Capullo, os actuais responsáveis criativos da principal revista do Cavaleiro das Trevas, cujo destino asseguram desde 2011, na sequência da remodelação do Universo DC conhecida por Novos 52.
Cinco anos depois dos leitores americanos o terem feito, chega finalmente a vez do público português descobrir como tudo começou, em Corte das Corujas, a primeira história do Batman que Snyder e Capullo assinaram em conjunto, e que está muito justamente considerada como uma das dez melhores histórias do Batman de todos os tempos. Snyder, que durante a sua passagem pela revista Detective Comics já tinha tido oportunidade de escrever Black Mirror – outra história do Batman absolutamente incontornável – volta a não deixar os seus créditos por mãos alheias, assinando uma aventura à altura da importância da ocasião – o relançamento da revista do Batman e de todo o universo DC – que vem enriquecer a mitologia do Cavaleiro das Trevas e a história da sua cidade, Gotham City. E o ponto de partida do escritor é tão simples quanto eficaz: para esta aventura de estreia, em vez de recorrer a qualquer um da vasta galeria de vilões carismáticos do Batman, cria um novo predador à altura do Homem Morcego, inspirando-se na própria natureza.
E. na natureza, o principal predador do morcego é a coruja. Ave de rapina nocturna, de olhar hipnótico, a coruja consegue rodar a sua cabeça até 270° e voar silenciosamente, graças às penas especiais, muito macias e numerosas, que compõem as suas asas. Características que fazem da coruja um dos predadores mais sofisticados da natureza. Considerada igualmente como um símbolo da sabedoria desde a Grécia Antiga, onde era associada à deusa Atena, a imagem da coruja aparece já nas moedas desse período, mantendo-se até aos nossos dias como símbolo de cultura e conhecimento.
São essas características de predador tão mortífero como inteligente, que se associam às corujas, que inspiraram Scott Snyder na criação da história que poderão ler a seguir, em que a própria cidade de Gotham deixa de ser mero cenário, para se assumir como protagonista.
Como refere o autor “Eu gosto das corujas porque, em termos psicológicos, são muito assustadoras – só a maneira como se sentam e olham e estão tão silenciosas é assustadora – é como se se escondessem à vista de todos e achassem que não as conseguimos ver. Quase só pela sua força de vontade, elas tornam-se invisíveis para nós, mesmo quando estão à frente do nosso nariz. De certa maneira, têm alguma coisa de incrível. Alguma coisa que, simbolicamente, podia estar em Gotham há muito tempo. E uma organização secreta, que usa isso como símbolo desde a fundação de Gotham City, pareceu-me apropriado.”
Foi assim que nasceu a Corte das Corujas, uma organização secreta que comanda nas sombras o destino da cidade de Gotham desde a sua fundação, e cuja existência é desconhecida até do próprio Bruce Wayne, embora a história da sua família se cruze com a da organização. Condenado à morte pela Corte das Corujas, Bruce Wayne vai ter de enfrentar a Garra, um assassino altamente treinado, de idade incerta e quase imparável, que revela ser o rosto do vasto exército com que a Corte das Corujas pretende conquistar Gotham.
A contar esta história, ao lado de Scott Snyder, está o desenhador Greg Capullo, conhecido inicialmente pelo seu trabalho com Todd McFarlane na série Spawn, mas que, graças à Corte das Corujas e às histórias que se seguiram, é hoje associado imediatamente ao Batman. Curiosamente, a ligação entre Capullo e o Cavaleiro das Trevas poderia não ter acontecido, pois antes de assinar pela DC, o desenhador tinha também em carteira o convite de outra editora para desenhar a série Vingadores Vs X-Men (já publicada noutra colecção da Levoir), acabando por falar mais alto o seu amor pelo Batman e a vontade de trabalhar com Scott Snyder.
Mas, apesar do resultado final não o deixar transparecer, a colaboração entre os dois criadores teve algumas dificuldades iniciais. Como refere Capullo: “No início, a colaboração não foi simples. Eu estava habituado ao velho método Marvel, em que recebes um argumento sumário, com o mínimo de descrições, constróis a história a partir daí e, no fim, o argumentista escreve os diálogos, mas o Scott mandou-me um argumento de mais de 30 páginas, com tudo descrito ao pormenor e já planificado. Disse-lhe que não conseguia trabalhar assim, e ele respondeu-me que eu não lhe podia dizer como fazer o trabalho dele. Ou seja, no início houve uma certa guerra de egos, mas conversámos e chegámos rapidamente a um acordo. Respeitamo-nos e admiramo-nos mutuamente, e temos um objectivo comum: produzir o melhor livro do Batman possível. Trabalhamos como uma equipa, e as pessoas estão a aderir ao nosso trabalho, o que é óptimo.”
Ao longo da série, as fronteiras entre desenhador e argumentista vão-se diluindo, com Capullo a contribuir directamente para a história, como acontece no capítulo 5, na sequência do labirinto. A ideia de alterar radicalmente o sentido de leitura das páginas, para transmitir de forma mais eficaz ao leitor a sensação de desorientação sentida pelo Batman, foi do desenhador, a que Snyder aderiu prontamente. E essa sequência, tão espectacular como narrativamente inovadora, é apenas um exemplo do trabalho de uma dupla em total sintonia, de tal modo que Capullo não hesita em comparar a sua colaboração com Snyder à de uma das maiores duplas da história da música pop. Nas palavras de Capullo: “O que é excelente é que nós nos estamos a aproximar muito dos Beatles na maneira como eles escreviam canções. O John Lennon escrevia uma parte, o Paul McCartney escrevia outra parte, misturavam as duas coisas e criavam verdadeiro ouro. Ou seja, temos vozes similares mas diferentes, e combinando as nossas vozes, temos criado coisas muito fixes, ou pelo menos, é isso que as pessoas nos dizem”.
Terminada a primeira parte desta história espectacular, restará ao leitor esperar apenas uma semana, para descobrir se o Batman será capaz de impedir o plano da Corte das Corujas de transformar Gotham City na Cidade das Corujas, matando todos os que se lhes opõem.

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