domingo, 31 de agosto de 2014

Universo Marvel 8 - Thor: Renascido

THOR REGRESSA AO UNIVERSO MARVEL

Universo Marvel – Vol. 8
Thor: Renascido
Argumento – J. M. Straczynski
Desenho – Olivier Coipel
Quinta, 28 de Agosto, Por + 8,90 €

Thor, o poderoso Deus do trovão da Marvel tem sido notícia nos últimos tempos, graças à decisão da editora de o transformar numa mulher a partir do próximo mês de Outubro. Mas enquanto esse momento não chega, os leitores podem descobrir o bom e velho Thor que sempre conheceram, na inspirada versão de J. M. Straczynski, que vai estar em destaque no próximo volume da colecção Universo Marvel.

Criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1962, no nº 83 da revista Journey into Mystery, Thor vai beber inspiração directa à mitologia nórdica, misturando-a com intrigas e diálogos shakespereanos, numa mistura improvável, mas bem-sucedida, que revela o talento de Lee e Kirby. Armado com o seu martelo Mjolnir, Thor é o Deus do Trovão da mitologia nórdica que, por castigo do seu pai, o todo-poderoso Odin, é aprisionado no corpo frágil de um mortal, o Dr. Donald Blake. E é precisamente nessa oposição entre o divino e o humano, entre Asgard, o lar dos Deuses Nórdicos e Midgard, o planeta Terra, que oscila a dinâmica da série.
Na anterior presença de Thor numa colecção dedicada à Marvel, o volume As Idades do Trovão, da primeira série dos Heróis Marvel inteiramente passado em Asgard, a dimensão épica da saga dos deuses nórdicos estava em natural destaque. Nesta nova etapa da personagem, da responsabilidade de Straczynski, é a articulação dos Deuses nórdicos com os humanos que está no centro da acção, pois na sequência do Ragnarok, o Crepúsculo dos Deuses, Odin morreu, Asgard deixou de existir do outro lado da Ponte do Arco-íris e o Poderoso Thor viu-se obrigado a reconstruir o lar dos Deuses nórdicos. Nasceu assim uma nova Asgard flutuante, pairando sobre o Estado de Oklahoma, cuja existência irá ter consequências profundas no equilíbrio do Universo Marvel, que serão abordadas em Cerco, um dos próximos volumes desta colecção.
Escritor de cinema, televisão e Banda Desenhada, Straczynski estreou-se como argumentista na série de animação He-Man, no início da década de 80, dando assim início a uma carreira bem-sucedida como escritor para televisão, que tem o seu ponto mais alto em 1994, com a série de ficção científica Babilon 5, que Straczynskyi criou, escreveu, produziu e realizou durante 5 temporadas. Terminada essa primeira etapa, o autor conciliou a sua actividade no cinema e na TV com o seu amor de infância, os comics, criando para a Top Cow as séries Rising Stars e Midnight Nation. A qualidade do trabalho de Straczynski chamou a atenção de Joe Quesada, editor-chefe da Marvel que o convidou para escrever as aventuras do Homem-Aranha, oferecendo-lhe um contrato de exclusividade. O trabalho de Straczynski com o Homem-Aranha ao longo de seis anos, em que colaborou sobretudo com o desenhador John Romita Jr., valeu-lhe inúmeras distinções e teve edição nacional pela Devir, tanto em revista, como em livro.
Seguiu-se a nova série do Poderoso Thor, cujo primeiro capítulo podem ler no volume que chega na próxima quinta-feira às bancas, em que contou com a colaboração do desenhador francês Olivier Coipel, que os leitores já conhecem do volume Dinastia de M, publicado na segunda série que a o Público e a Levoir dedicaram à “Casa das Ideias”. Um dos ilustradores mais em destaque na Marvel nos últimos anos, Coipel confirma a qualidade do traço que já era evidente em Dinastia de M, articulando a dimensão épica dos Deuses nórdicos com um registo mais intimista da América profunda, cuja tranquilidade a presença dos Deuses de Asgard veio perturbar.
Publicado originalmente no jornal Público de 22/08/2014

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Frank Miller em Sin City



A propósito da estreia nos cinemas nacionais esta quinta-feira, de Sin City 2: A Mulher Fatal, pareceu-me interessante recuperar aqui o texto que escrevi em 2005, para o nº 3 do BD Jornal, a convite do Machado-Dias. 
Tenciono, naturalmente, falar também aqui do novo filme, que além do mais, é baseado numa das minhas histórias preferidas de Sin City, que tive o prazer de traduzir para português, mas só o deverei conseguir fazer durante a próxima semana, pois é pouco provável que consiga ir ver o filme antes disso. Até lá, deixo-vos com este texto sobre a série de Frank Miller e a sua passagem ao cinema 

SIN CITY: QUANDO O CINEMA SE TRANSFORMA EM BD

Depois do sucesso comercial no mercado americano e da passagem pelo Festival de Cinema de Cannes, chegou finalmente a Portugal no dia 9 de Junho aquele que a revista Première anuncia como o filme de culto do ano, Sin City, uma transposição para cinema, dirigida por Frank Miller e Robert Rodriguez, da série de culto de Frank Miller. O pretexto ideal para falarmos um pouco do filme, começando pelos livros disponíveis em Portugal que lhe deram origem.


BEM-VINDO A SIN CITY

Série revolucionária, pela forma como recupera um género considerado acabado (o policial negro) e o reinventa em violentas histórias de crime e castigo, desenhadas num espectacular preto e branco, altamente contrastado, Sin City tem conciliado o estatuto de obra de culto com um grande sucesso comercial, como de resto aconteceu em Portugal, onde as excelente vendas do primeiro volume se aliaram ao reconhecimento da crítica, traduzido no prémio de Melhor Clássico da BD editado em 2003, atribuído pelo Festival de Banda Desenhada da Amadora.

Estreada no nº 51 da revista Dark Horse Presents, Sin City assinalava um estrondoso e inesperado regresso de Frank Miller à prancheta de desenhador, que pôs fim a um hiato de dois anos (desde Elektra Lives Again), em que o criador de Elektra se dedicou a uma decepcionante experiência em Hollywood, onde colaborou nos argumentos dos filmes Robocop II e III.  Assegurando todo o processo criativo, desde o argumento e desenhos até à legendagem (ao contrário do que acontecia em Hollywood, onde era apenas mais uma peça da engrenagem), Miller criou com Sin City uma série policial extremamente violenta e inovadora no uso contrastante do preto e branco e na diluição do conceito de herói tradicional, que aqui cede o protagonismo à própria cidade, contribuindo para um novo fôlego dos comics policiais, há muito esquecidos num mercado atulhado de super-heróis.
Para os leitores menos atentos à trajectória de Miller, esta estilizada incursão pelos campos do romance "hard boiled" poderia parecer uma ruptura na carreira do autor, conhecido principalmente graças à revitalização de super-heróis como o Batman ou o Demolidor. Uma ruptura apenas aparente, pois Sin City  acaba antes por ser mais uma fase lógica na evolução estética e literária de um criador, que já mostrou o seu talento para incorporar os seus diferentes interesses e fontes de inspiração em obras originais e coerentes. Liberto dos constrangimentos editoriais existente nas grandes empresas, como a DC e a Marvel, em que lida com personagens com um passado bem conhecido e que irão continuar a existir muito para além da sua intervenção, Miller  soube aproveitar essa merecida liberdade para criar um universo de raiz, onde é rei e senhor.
As histórias policiais são um tema recorrente ao longo da obra de Frank Miller, que sempre teve vontade de fazer esse tipo de histórias, tendo-se dedicado aos super-heróis por ter sido o único tipo de trabalho que lhe apareceu no início de carreira. Mas as suas histórias de super-heróis revelam esse gosto pela literatura e cinema policial, em que personagens profundamente humanos, nas suas qualidades e defeitos, procuram sobreviver na grande cidade, submergida pela corrupção e pelo crime.
Estilização talvez seja o adjectivo que melhor defina o seu trabalho em Sin City, pois, sem nunca pretender fazer uma história realista, Miller procurou através de uma enorme economia de meios que tudo parecesse o mais atraente possível. Nas suas palavras: “queria que os carros fossem vintage, as mulheres fossem belas e as gabardines compridas. Se olharmos para um comic desenhado por Johnny Craig ou Wallace Wood [dois desenhadores da E. C. Comics] vemos que eles conseguiam dar "glamour" a todo e qualquer assunto. Eu quero que Sin City seja agradável de desenhar e consequentemente, agradável de ver, até porque eu sabia que estava a lidar com um material extremamente duro”.

Não era apenas em termos estéticos que Sin City foi inovador, pois não é nada habitual ver morrer o protagonista no fim da história, como acontece com Marv, (interpretado no cinema por Mickey Rourke, num espectacular desempenho que pode muito bem relançar a sua carreira, como aconteceu com John Travolta no filme Pulp Fiction). Um destino que serve para Miller mostrar de forma clara aos leitores que o verdadeiro protagonista da série é a cidade, de que Marv é apenas um habitante. Nas suas próprias palavras: “queria começar Sin City de forma que os leitores percebessem quão longe eu estava disposto a ir com os personagens. Não queria que fosse considerada como uma série centrada num único personagem. Assim evita-se a saturação. As pessoas realmente não vivem de uma aventura para a outra. Eu chego e visito esses personagens durante os períodos mais intensos da sua existência”.
A primeira história de Sin City, notável no seu experimentalismo gráfico, dificilmente ultrapassável, revelava no entanto alguns problemas narrativos, naturais numa história que se ia desenvolvendo de acordo com o prazer cada vez maior que Miller tinha em desenhá-la. Assim, apesar de algumas debilidades do argumento, em que a violência sádica está ao nível dos romances de Mickey Spillane e James Ellroy, o fabuloso sentido de planificação e a qualidade e eficácia da escrita emotiva e visceral de Miller, em que nada é supérfluo, fazem com que o resultado final seja uma excelente obra de BD.
Animado pelo sucesso de Sin City, Miller decide voltar às ruas da sua cidade, para nos apresentar Dwight, o protagonista de Mulher Fatal, o segundo volume da série, cuja história, já foi anunciado por Rodriguez, irá servir de base ao 2º filme, ainda sem data de estreia prevista. O experimentalismo do primeiro Sin City dá agora lugar ao rigor e classicismo desta nova entrega, em que a história (previsível, mas cheia de acção) de uma mulher fatal e do homem que se deixa dominar por ela, é contada de forma perfeita, respeitando todos os cânones do "cinema negro" que lhe deu origem.
Ava, a tal Mulher Fatal é claramente inspirada nas mulheres fatais do cinema. No entanto, esta personagem, ao contrário do que costuma suceder no cinema, não se apresenta tanto como uma vitima das circunstâncias, alguém a quem a vida arrastou para o crime, mas como uma pessoa extremamente calculista, que aparece aos outros personagens como uma encarnação do Mal em estado puro, muito mais aterrorizante para o leitor, que se apercebe da frieza e calculismo da personagem.
Também Dwight vai ter direito ao habitual tratamento de choque que Miller costuma dispensar aos seus heróis. O autor, que acredita piamente naquela máxima de Nietzsche, que diz que "o que não nos mata torna-nos mais fortes", vai fazer com que Dwight seja espancado e baleado, ficando entre a vida e a morte, para renascer como um novo homem, que aprendeu com a experiência traumática a que foi submetido. Um processo de expiação pelo sofrimento, enraizado na mitologia judaico-cristã, habitual na obra de Miller e pelo qual também já passaram Batman e o Demolidor.
Nesta segunda entrega ressalta o rigor de construção da violenta história, bem patente na forma hábil como Miller articula este episódio com o anterior, através da presença de Marv, que aqui tem um papel mais episódico, embora igualmente importante.
Depois de Mulher Fatal, Dwight, que no filme é interpretado pelo inglês Clive Owen, volta como protagonista de A Grande Matança, uma história ultra-violenta, contada quase em tempo real e onde o sangue corre ainda com maior abundância para as sarjetas de Sin City. Apesar de um argumento demasiado primário, merece destaque a forma como Miller gere o suspense, e que tem o seu ponto mais alto na cena em que se descobre que Jackie Boy (uma personagem a que Benicio Del Toro dá vida no filme) era polícia, e que a sua morte punha em causa o pacto tácito de não agressão com a polícia, de que dependia o estatuto especial da Cidade Velha.
Aquele Sacana Amarelo, o 4º volume da série é quando a mim o mais conseguido e o primeiro em que Miller quebra o habitual preto e branco, com a introdução de uma terceira cor, neste caso o amarelo, com resultados espectaculares, pois, como ele próprio comenta, “a cor é extremamente poderosa e o olhar é imediatamente atraído para ela, especialmente se se trata de uma cor isolada”.
  Introduzindo um novo herói, John Hartigan, um polícia à beira da reforma que paga caro o preço de não pactuar com o sistema, esta história destaca-se pela intensidade e carisma das personagens principais e pelo rigor da construção e gestão do suspense, que atingem aqui talvez o seu ponto máximo. Se Nancy revela ser bastante mais do que uma simples bailarina de corpo deslumbrante (a que a actriz Jessica Alba faz justiça no filme), capaz de proporcionar a Miller algumas notáveis cenas de puro voyeurismo, Hartigan, o mais puro e honesto personagem até agora avistado em Sin City, é também uma das mais bem conseguidas personagens de toda a série, a que Bruce Willis dá corpo no cinema com grande eficácia e que, tal como Marv, morre no fim da história em que aparece pela primeira vez, deixando muitas saudades.
  Considerado pelo próprio Miller como o seu trabalho favorito, apesar do aspecto algo ridículo (mas que se destaca bem do preto e branco da página e que o filme recria de forma impressionante) do filho do Senador Roark, com o seu sangue amarelo que vai enchendo as páginas à medida que a história se aproxima do fim, Aquele Sacana Amarelo é bem revelador da capacidade de Miller surpreender o leitor, que estava longe de imaginar que a pequena Nancy Callahan e a sensual bailarina do Kadie's são a mesma pessoa.


DA BD PARA O CINEMA

Sendo uma série claramente devedora da estética do film noir, o sucesso das histórias de Frank Miller ambientadas na cidade do pecado, atraiu naturalmente o interesse dos grandes estúdios cinematográficos, mas Miller, que trabalhou em Hollywood como argumentista e sabe bem como funcionam os estúdios de cinema, sempre se mostrou muito reticente a permitir que as suas personagens chegassem ao grande ecrã.
Foi preciso toda a persistência de Robert Rodriguez que, depois de mostrar a Miller uma série de imagens que provavam que era possível recriar no cinema, o preto e branco de alto contrate de Sin City, convidou o desenhador para assistir a um teste de filmagem da história curta O Cliente tem sempre Razão, para que ele pudesse ver por si próprio como, graças às novas tecnologias digitais, era possível recriar no ecrã até ao mais ínfimo pormenor, o grafismo único de Sin City. O tal teste, filmado com os actores  Josh Hartnett e Marley Shelton, ainda antes de haver um contrato assinado, serviu para convencer definitivamente Frank Miller, para além de se revelar um óptimo cartão de visita para recrutar um naipe assombroso de actores que, além de Mickey Rourke, inclui ainda Bruce Willis, Clive Owen, Michael Madsen, Benicio del Toro, Jaime King, Rosário Dawson, Elijah Wood, Carla Gugino, Jessica Alba, Michael Clarke Duncan, Britanny Murphy e Rutger Hauer.
Para além de O Cliente Tem Sempre Razão, história publicada em Portugal no nº 1 da revista Comix, e que funciona como cena de abertura do filme, a longa-metragem adapta mais três histórias, todas já disponíveis em português pela Devir. São elas, A Cidade do Pecado, o  primeiro volume de Sin City, rebaptizado como O Difícil Adeus na nova edição americana, O Grande Massacre e Aquele Sacana Amarelo.
Mais uma transposição do que propriamente uma adaptação, o filme é de uma fidelidade assombrosa à BD que lhe deu origem. Além de haver um respeito absoluto pelos enquadramentos, planificação e diálogos da BD, com as páginas a servirem de story-board, o próprio Frank Miller surge creditado como corealizador, a par de Rodriguez, que teve de abandonar a Director’s Guild of America, para poder conceder a Miller a realização conjunta e ainda convidar Quentin Tarantino para dirigir uma sequência de O Grande Massacre, recebendo um dólar de pagamento, em retribuição de Rodriguez ter feito música para o filme Kill Bill cobrando o mesmo valor. E, embora a cena filmada por Tarantino (uma surreal conversa dentro de um carro entre Dwight e o cadáver de Jackie Boy) não se distinga particularmente do resto do filme, Rodriguez ficou tão satisfeito com o resultado que lhe prometeu dobrar o salário no segundo Sin City...
Verdadeiro prodígio técnico, Sin City, o filme, visualmente espectacular, foi inteiramente rodado em suporte digital, única maneira de recriar o jogo de claro/escuro e a iluminação impossível de Miller, no estúdio de Rodriguez, no Texas, com os actores filmados contra um ecrã verde, que permitia que os cenários, o tratamento da imagem e a montagem das cenas fossem efectuados na pós-produção, única forma de fazer um filme com um elenco destes por apenas 40 milhões de dólares. E, embora isso depois não se note no ecrã, muitos dos actores que contracenam no filme, nem sequer se cruzaram nas filmagens, como foi o caso de Mickey Rourke, com Elijah Wood e Rutger Hauer, actores contratados muito depois de Rourke ter acabado de filmar as suas cenas.
Embora o filme apresente alguns problemas de ritmo e algumas das cenas precisassem de mais tempo, para os fãs da BD é uma experiência absolutamente fabulosa ver os desenhos de Miller ganharem vida no grande ecrã. Para o grande público, que não se deixe impressionar pela grande violência do filme, que faz Kill Bill  parecer quase um filme da Disney, será certamente uma experiência diferente e inovadora, que se adora ou se odeia, mas dificilmente se esquece.
Texto publicado originalmente no BD Jornal nº 3, de Julho de 2005

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Universo Marvel 7 - Marvels


MARVELS, A OBRA-PRIMA DE ROSS E BUSIEK 
REGRESSA EM EDIÇÃO DEFINITIVA 

 Universo Marvel – Vol. 7 Marvels 
Argumento – Kurt Busiek Desenho – Alex Ross 
Quinta, 21 de Agosto Por + 8,90 €
O próximo volume da colecção Universo Marvel é o único desta série que não é inédito em Portugal, mas tratando-se de um clássico absolutamente incontornável, que conquistou três Prémios Eisner (os Óscars da BD americana) e afirmou Alex Ross como um dos maiores nomes dos comics, fazia todo o sentido incluí-lo nesta colecção. Até porque a anterior edição teve uma tiragem bastante reduzida e distribuição comercial muito limitada. Por isso, Marvels regressa agora ao mercado nacional numa nova edição, com uma nova e mais cuidada tradução e com uma série de extras, como os esboços de Alex Ross e as fotografias que este usou como modelo para a sua versão hiper-realista dos super-heróis, inexistentes na edição anterior. Escrita por Kurt Busiek e pintada por Alex Ross, Marvels analisa as implicações inerentes à existência dos super-heróis num mundo real.
O tema em si não é inovador. Alan Moore, em Watchmen tinha partido de uma premissa semelhante para concluir da impossibilidade da coexistência entre os super-heróis e o resto da humanidade. Isto é, ao humanizar os super-heróis, pôs em causa a sua própria razão de ser. Busiek opta por uma abordagem diferente e, embora integre os super-heróis na nossa realidade quotidiana de forma realista, não os pretende humanizar. Pelo contrário. Em Marvels, os super-heróis são vistos como deuses que desceram à terra, com os cidadãos de Nova Iorque apenas a assistirem à distância, sem poderem intervir, aos momentos decisivos em que a história do universo Marvel está a ser escrita. Uma história que nos é apresentada do ponto de vista do homem comum, que assiste impotente à chegada dos novos deuses que caminham sobre a Terra. Esse homem é Phil Sheldon, um repórter fotográfico do Daily Bugle, o mesmo jornal onde também trabalha Peter Parker, o Homem-Aranha, que vai ser testemunha da maioria dos acontecimentos que, desde 1939 até aos anos 70, marcaram a vida de milhões de leitores das revistas da Marvel. Um ponto de vista tanto mais curioso quanto é exactamente o inverso do utilizado por Stan Lee no início da década de 60, no que se convencionou chamar a “revolução Marvel”, em que, pela primeira vez, os super-heróis foram apresentados como indivíduos atormentados pelos mesmos problemas do cidadão comum, capazes dos mesmos tipos de sentimentos e emoções.
 Exercício nostálgico de inegável fascínio, principalmente para quem acompanhou mês a mês os acontecimentos retratados, Marvels consegue aliar a dimensão mítica a um grande realismo, o que não é fácil de compatibilizar. Grande parte do mérito vai para Alex Ross, um artista de grande talento, cujas imagens pintadas de forma hiper-realista dão vida e consistência aos heróis da Marvel, sem abdicar da dimensão épica que os caracteriza.
Publicado originalmente no jornal Público de 15/08/2014

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Universo Marvel 6 - Homem de Ferro: Demónios



HOMEM DE FERRO ENFRENTA O SEU MAIOR INIMIGO: ELE PRÓPRIO

Homem de Ferro: Demónios
Argumento – David Michelinie e Bob Layton
Desenho - John Romita Jr, Bob Layton
Quinta, 14 de Agosto Por + 8,90 €

O Homem de Ferro regressa ao Público, com aquela que é unanimemente considerada como uma das melhores sagas de super-heróis dos anos 70, em que pela primeira vez o problema do alcoolismo é abordado de forma realista numa história de super-heróis.
Se em termos de Banda Desenhada franco-belga o tema não é propriamente novidade, nem tabu – basta pensar no combate que o Capitão Hadock trava (e geralmente perde) com a bebida, em diversos álbuns da série Tintin – já os principais super-heróis mostravam-se superiores aos vícios mais mundanos e temas como a droga e o alcoolismo estavam mais ou menos interditos pelo Comics Code, mecanismo de autocensura criado pela própria indústria nos anos 50. Daí a importância desta história, que vem na linha do esforço feito por Denny O’Neil e Neal Adams na revista do Arqueiro Verde e Lanterna Verde, na história publicada na colecção que o Público e a Levoir dedicaram à DC. Uma importância de que os próprios autores nem se aperceberam na altura, pois como refere Bob Layton: “nunca foi nossa intenção fazer uma história que fosse socialmente relevante. Fomos pagos, basicamente, para escrever a próxima aventura do Homem de Ferro. Acontece que, naquela história concreta, o alcoolismo é o mau da fita. Em vez do Doutor Destino, ou de outro vilão qualquer, era a bebida. Era o nosso vilão do mês e foi desse modo que tratamos o alcoolismo.”

Publicada originalmente em 1979, nos nºs 120 a 28 da revista Iron Man, a saga Demónios (no original Demon in a Bottle) é uma história movimentada, centrada na disputa entre Tonny Stark e o milionário Justin Hammer que pretende ficar com a empresa de Stark, usando para isso um bando de super-vilões contratados como mercenários, mas que envolve também combates com Namor e a presença do Capitão América. Apesar de todos estes elementos na intriga, o fulcro da história está, como já vimos, na luta interna de Tony Stark contra a adição que o controla e que o afasta daqueles que o amam. Para contar esta história marcante, Bob Layton, que além do argumento, é responsável pela passagem a tinta dos desenhos, conta com a colaboração do argumentista David Michelinie no argumento e de John Romita Jr. e do veterano Carmine Infantino, o mítico criador e editor da DC, responsável pelo relançamento do Flash, então a trabalhar como ilustrador freelancer, depois de se ter despedido da DC em 1976.
Mas o destaque em termos gráficos, vai naturalmente para John Romita Jr., então no início de uma carreira épica de mais de três décadas ao serviço da Marvel, interrompida apenas este ano, quando aceitou trocar a “Casa das Ideias” pela DC, onde é o actual desenhador do Super-Homem. Nascido em 1956, filho de John Romita, um dos mais importantes e elegantes desenhadores da Marvel, Romita Jr. publicou o seu primeiro trabalho numa revista da Marvel aos 13 anos, mas foi a sua colaboração com Bob Layton e David Michelinie nas histórias do Homem de Ferro que o tornou conhecido junto dos leitores das revistas da "Casa das Ideias".
Publicado originalmente no jornal Público de 08/08/2014

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Tex e a Lenda do Cavaleiro sem Cabeça



Já está disponível nas bancas de todo o país, onde se manterá até ao final de Agosto, o mais recente Tex Gigante (ou Texone, como são conhecidas em Itália estas edições) que conta com desenhos do italiano Fabio Civitelli, autor bem conhecido dos fãs nacionais do ranger da casa Bonelli, até pela suas diversas vindas ao nosso país, para conviver com os fãs locais.
Quem costuma acompanhar este blog sabe bem que a minha ligação à série Tex fez-se muito mais pelos desenhadores que a ilustram do que pelo carisma da personagem, daí que siga com especial atenção os Texones, que já me fizeram descobrir desenhadores do calibre de um Pasquale Frisenda, ou de um Carlos Gomez. No caso de Civitelli, cujo trabalho conhecia das revistas mensais, devo confessar que, embora reconheça a qualidade e a extraordinária minúcia do seu traço clássico, está longe de ser dos meus desenhadores do Tex preferidos, muito por força do tratamento fisionómico muito suave e quase idealizado que dá às personagens principais, longe dos rostos marcados e “vividos”, habituais nos desenhos de José Ortiz, Guido Buzzelli, Victor De La Fuente ou Carlos Gomez, que claramente prefiro.
Desenhador regular da série, Civitelli tem aqui outras condições para fazer brilhar o seu traço, aproveitando o formato maior, próximo do A4, destes Tex Gigantes e a verdade é que as aproveita muito bem, realizando um trabalho de sombras notável nas cenas nocturnas, graças a uma apurada técnica pontilhista, na melhor tradição do Mestre Franco Caprioli. O trabalho gráfico de Civitelli resulta excelente em termos da criação de uma atmosfera fantástica e a forma como o suspense é gerido ao longo de toda a história tem momentos brilhantes, tanto nas cenas dos ataques nocturnos do Hombre Muerto, como na sequência na necrópole índia, já para não falar do clima quase daliniano do pesadelo de Eusébio, em que as sombras da noite dão lugar à luz crua do deserto.
Tendo como principal fonte de inspiração o conto clássico de Washington Irving, The Legend of Sleepy Hollow (publicada em Portugal como A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça) que já deu origem a um filme de Tim Burton e a uma série de televisão recente, que transpõe a história para a actualidade, Mauro Boselli transpõe a história de Irving para o México, associa-a a personagens com existência histórica real e partir daí constrói uma boa história de terror, com um toque fantástico, que só peca por um final apressado, sobretudo tendo em conta o tempo que a história propriamente dita demora a arrancar. Mas, para compensar, há algumas sequências brilhantes em termos de criação de ambiente, que poderiam dar um belíssimo filme. Por exemplo, as cenas em que o som da flauta precede o ataque do Hombre Muerto, fizeram-me lembrar a forma absolutamente brilhante como Sérgio Leone usava a música de Enio Morricone nas cenas fulcrais dos seus filmes.
Em suma, mais um Texone a não perder, que me fez apreciar a arte de Fabio Civitelli com outros olhos.
(Tex Gigante nº 27: A Cavalgada do Morto, de Mauro Boselli e Fabio Civitelli, Mythos Editora, 242 pags, p/b, 10 €)

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Universo Marvel 5 - Vingadores e Quarteto Fantástico: Invasão Secreta


VINGADORES E QUARTETO FANTÁSTICO ENFRENTAM A INVASÃO SECRETA DOS SKRULLS

Universo Marvel – Vol. 5
Vingadores e Quarteto Fantástico: Invasão Secreta
Argumento – Brian Michael Bendis
Desenhos – Leinyl Francis Yu
Quinta, 7 de Agosto, Por + 8,90 €
Neste volume, os Skrulls, uma raça alienígena capaz de assumir a forma e os poderes dos heróis do universo Marvel, infiltrou-se nos principais grupos de super-heróis, dando o passo decisivo para o sucesso do seu plano de conquista da Terra.
 Um plano complexo e maquiavélico, que os Vingadores e o Quarteto Fantástico vão tentar travar, mesmo sabendo que o herói que combate ao seu lado pode afinal ser um Skrull.
Umas das mais antigas raças alienígenas do universo Marvel, os Skrulls fizeram a sua primeira aparição logo no nº 2 da revista do Quarteto Fantástico, em 1962, numa história em que faziam uso das suas capacidades miméticas para se fazerem passar pelo Quarteto Fantástico e desde então têm sido presença habitual nas sagas galácticas do Universo Marvel, estando na origem de histórias memoráveis como The Kree – Skrull War, uma saga épica dos Vingadores assinada por Roy Thomas e Neal Adams nos anos 70. Com o seu aspecto reptiliano, a meio caminho entre os duendes da mitologia céltica e os extraterrestres dos filmes dos anos 50, os poderes dos Skrulls que lhes permitem infiltrar-se no meio dos heróis, remetem para o clima de paranóia da Guerra Fria, evidente em clássicos do cinema de ficção científica, como The Invasion of the Body Snatchers, de Don Siegel, de 1956, ou o mais recente They Live, de John Carpenter, de 1988. 
Como podemos ver no anterior volume, dedicado aos Guardiões da Galáxia, o plano dos Skrulls já estava em marcha e o terreno foi sendo preparado até chegarmos a esta saga, espoletada pela descoberta que a ninja Elektra era na realidade um Skrull. São as consequências dramáticas dessa revelação, que põe em causa o destino da Terra e a segurança dos seus heróis, que o argumentista Brian Michael Bendis, um dos principais arquitectos do novo Universo Marvel, explora de forma muito conseguida, numa história complexa e movimentada, bem servida pela arte de Leinil Francis Yu.
Nome conceituado da segunda vaga de autores filipinos que conquistaram o mercado americano a partir da década de 90, Leynil Francis Yu, depois de uma curta passagem pela Image, chegou à Marvel, onde começou por desenhar o Wolverine, dando início a uma ligação com a editora que ao longo da última década lhe permitiu desenhar os maiores heróis da “Casa das Ideias”. E a verdade é que Yu tem em Invasão Secreta um dos seus melhores trabalhos de sempre, brilhando a grande altura, especialmente nas páginas duplas cheias de personagens, em que o seu apurado sentido de composição lhe permite conciliar legibilidade e espectacularidade.
Título incontornável entre aqueles que formam o eixo condutor desta colecção Universo Marvel, esta Invasão Secreta vai ter consequências profundas, que se vão reflectir nos volumes posteriores desta colecção, Thor Renascido, Cerco e A Essência do Medo, sendo também por isso um volume a não perder.
Publicado originalmente no jornal Público de 01/08/2014

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Textos editoriais Marvel NOW! 5 - Homem-Aranha Superior 06


O HÁBITO E O MONGE

Diz um conhecido ditado popular que “o hábito não faz o monge”. E, se como geralmente acontece, estes ditados têm um fundo de verdade, não é menos certo de que a realidade, ou no caso da Banda Desenhada, a ficção criada pela mente dos autores, acaba por ser bem mais complexa do que a sabedoria popular simplisticamente a apresenta.
A saga que temos acompanhado nesta revista é um bom exemplo de uma realidade demasiado complexa para se encaixar completamente neste ditado, mas a verdade é que as histórias de super-heróis, pela forma como exploram a ligação entre o herói e o uniforme que se torna a sua segunda pele, permitem facilmente uma aproximação a este provérbio.
Curiosamente, um dos pioneiros do género superheróico, o Fantasma, de Lee Falk, criado em 1936, ou seja, ainda antes do aparecimento do Super-Homem, é uma das raras excepções a esta regra, pois o homem por trás da máscara é apenas o mais recente membro de uma linhagem de vinte e uma gerações de combatentes do crime. Uma tradição nascida em 1536, quando o sobrevivente de um ataque de piratas em que morreu o seu pai, fez um juramento solene de combater o crime como o Fantasma até ser substituído pelo seu filho, quando a sua hora chegar. Assim o misterioso vingador aparentemente imortal conhecido como o “Espírito que Caminha” é apenas o mais recente elo de uma cadeia familiar, que o inconfundível uniforme justo, concebido por Lee Falk para ter cor cinzenta, mas que acabou por sair roxo devido a um erro da gráfica, ajuda a perpetuar.
Mas como bem sabem os leitores, a regra é encontrarmos sempre o mesmo homem dentro do uniforme. Steve Rogers é e será o Capitão América, Peter Parker, o Homem-Aranha, Matt Murdock, o Demolidor e Bruce Wayne, o Batman. Mesmo que Bucky Barnes já tenha sido o Capitão América, depois da morte de Rogers durante a Guerra Civil, e que o próprio Steve Rogers tenha assumido outras identidades, como Nomad, a seguir ao escândalo de Watergate, ou The Captain, ou que durante as décadas em que permaneceu em animação suspensa nos gelos do Ártico, outros homens, como William Naslund, Jeffrey Mace e William Burnside tenham também vestido o uniforme inspirado na bandeira americana.
Também Peter Parker tem assumido ao longo dos anos a grande responsabilidade de combater o crime como o Homem-Aranha, mesmo que a mente que ocupa o seu corpo seja a do Dr. Octopus, como acontece actualmente, ou como aconteceu na tristemente célebre saga do Clone, Ben Rilley, o Scarlet Spider, que se pensava ser um clone de Peter Parker, revelou ser o original e que o verdadeiro clone era o Peter Parker que os leitores conheciam desde sempre. Mas a mais interessante variação deste ditado, em que o hábito deu origem a um novo monge de uma ordem diferente, é mesmo a que sucedeu com o uniforme negro que Peter Parker arranjou durante as Guerras Secretas, e que cedo assumiu vida própria, revelando ser um simbiote alienígena que passou a infernizar a vida do Homem-Aranha como Venom.
Mais recentemente, face ao sucesso das personagens da Marvel no cinema, houve a necessidade de alterar os uniformes de alguns heróis, aproximando-os do aspecto com que aparecem no grande ecrã, e aqui o Gavião Arqueiro saiu claramente a ganhar, trocando o bastante ridículo uniforme original, pelo mais discreto e cinematográfico uniforme actual.
Quem leu o seminal Demolidor Renascido de Frank Miller e David Mazzucchelli, em que Matt Murdock passa a maioria da história sem uniforme, percebe que um herói continua a sê-lo, mesmo sem o fato vestido, mas isso não apaga a grande importância simbólica dos uniformes dos Super-Heróis. Mais do que um disfarce que protege a identidade de quem o usa, o uniforme do super-herói é um símbolo, uma ideia e, como bem lembra Alan Moore em V for Vendetta, “ as ideias são à prova de bala”, mesmo que os homens dentro do fato não o sejam.
Texto originalmente publicado em Homem-Aranha Superior nº 06, de Julho de 2014

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Universo Marvel 4 - Guardiões da Galáxia: Legado


AINDA ANTES DAS SALAS DE CINEMA, OS GUARDIÕES DA GALÁXIA CHEGAM AO PÚBLICO

Universo Marvel – Vol. 4
Guardiões da Galáxia: Legado
Argumento – Dan Abnett e Andy Lanning
Desenhos – Paul Pelletier
Quinta, 31 de Julho + 8,90 €
Ainda antes de chegarem às salas de cinema nacionais, o que acontecerá no dia 7 de Agosto, uma semana depois da estreia nos EUA, os Guardiões da Galáxia, o mais recente grupo de heróis da Marvel a ter honras de adaptação cinematográfica, têm encontro marcado com os leitores do Público, no quarto volume da colecção Universo Marvel, que chega às bancas no próximo dia 31 de Julho. Volume que recolhe a história Legado, saga escrita por Dan Abnett e Andy Lanning, com arte de Paul Pelletier, que relançou a popularidade da equipa dos Guardiões da Galáxia e deu origem ao filme de James Gunn que, a avaliar pelas críticas e comentários de quem já viu, tem tudo para ser o próximo grande sucesso da Marvel no cinema.
Criados originalmente em 1969, por Arnold Drake e Gene Colan, no nº 18 da revista Marvel Super-Heroes, os Guardiões da Galáxia eram um grupo de super-heróis do século XXI, últimos sobreviventes das respectivas espécies, que se uniram para combater a Irmandade Badoon, uma raça alienígena que pretendia conquistar o universo. Depois desta primeira saga, os Guardiões tiveram encontros ocasionais com os outros heróis da Marvel em aparições episódicas nas diferentes revistas da “Casa das Ideias” ao longo das décadas seguintes, com destaque para o encontro com os Vingadores na famosa Saga de Korvack, em que os Guardiões se aliam aos Vingadores, para derrotar Michael Korvack, um vilão proveniente do mesmo futuro de que são originários os Guardiões da Galáxia. Seria preciso esperar até 1990, para que o grupo conquistasse finalmente o direito a uma revista própria, inicialmente escrita e ilustrada por Jim Valentino, que durou 62 números, até ser cancelada em 1995.
Depois disso, seria necessário esperar um pouco mais de uma década para que os Guardiões regressassem ao Universo Marvel em 2008, na história que podem ler nesta colecção e que apresenta uma nova formação dos Guardiões da Galáxia, composta por Peter Quill, o Senhor das Estrelas, Adam Warlock, Drax o Destruidor, Gamora, a nova Quasar, Rocket Raccoon, Groot e Mantis. Um grupo muito heterogéneo de heróis, comandado pelo Senhor das Estrelas, e que inclui membros como Gamora, filha adoptiva de Thanos e a mulher mais letal do universo, Rocket, um guaxinim com mau feitio e pontaria afinada e Groot, uma criatura vegetal com um vocabulário bastante limitado.

Os responsáveis pelo regresso dos Guardiões da Galáxia, os escritores Dan Abnett e Andy Lanning, cuja actividade conjunta lhes valeu a alcunha de DnA, têm uma larga experiência de sagas cósmicas como esta, que exploram a vastidão do Universo Marvel, desde a sua passagem pela revista da Legião dos Super-Heróis, da DC Comics, em 2000, onde foram responsáveis pela série Legion Lost, que relançou a Legião. Já na Marvel vão estar ligados às sagas Aniquilação e Aniquilação: Conquista, em que a maioria dos membros que irão formar os Guardiões da Galáxia têm participação activa.
Conciliando uma dimensão épica, com um lado cómico, evidente nos divertidos diálogos e nas personagens invulgares, como Rocket Raccoon e Groot, Abnett e Lanning, contando com o traço eficaz do desenhador americano Paul Pelletier, criam em Legado uma história bem conseguida, que alarga os horizontes do (já de si vasto) Universo Marvel, ao mesmo tempo que prepara o caminho para outra saga que vamos poder ler já no próximo volume desta colecção, a Invasão Secreta.
Publicado originalmente no jornal Público de 25/07/2014