domingo, 3 de novembro de 2013

Crítica ao novo álbum de Astérix


Desde a passada quinta-feira, que chegou às livrarias de toda a Europa, incluindo Portugal, “Astérix entre os Pictos” o tão aguardado 35º álbum da série Astérix, e o primeiro sem a assinatura de qualquer um dos seus criadores originais.
Com uma tiragem inicial de 2 milhões de exemplares, só em língua francesa, que esgotou numa semana, o novo Astérix, mais do que um livro, é um acontecimento mediático, que mereceu grande destaque em toda a imprensa, em que, dos jornais à Internet, muito se escreveu sobre o novo livro, que praticamente ninguém tinha tido ainda oportunidade de ler.
Mas agora, que o álbum já está nas livrarias e nas mãos de muitos leitores há mais de uma semana, podemos confirmar que, mesmo sem deslumbrar, o novo livro está à altura das expectativas e um largos furos acima dos últimos álbuns assinados por Uderzo, o que reconheça-se, só por si não é grande proeza, tal o nível a que a série tinha descido…

Profissionais competentes, Ferri e Conrad dão bem conta do pesado caderno de encargos, que no caso de Conrad implicou desenhar um livro de 48 páginas, num estilo que não é o seu, em apenas 6 meses. Uma tarefa ciclópica, de que se saiu com distinção, mesmo que seja evidente uma evolução ao longo do álbum (compare-se a vistosa mulher de Agecanonix das primeiras páginas, com a das últimas). Já Ferri, saiu-se também bastante bem da missão de recriar na sua história, os álbuns daquela que considera como a época de ouro da série, os anos 70 e, mesmo sem nunca atingir o nível de Goscinny (uma missão impossível), constrói uma história de viagens escorreita, com alguns trocadilhos bem conseguidos, embora nem todos resistam bem à tradução, e momentos divertidos, como o funcionário romano que pretende fazer um censo à população da aldeia gaulesa.
Ainda assim, a história peca por uma linearidade excessiva, pela pouca acção e pelo deficiente aproveitamento das potencialidades de uma figura como o Monstro de Loch Ness, cuja imagem parece ter sido criada mais a pensar nos bonecos de peluche a que vai dar origem…
Esperemos que num próximo álbum, os autores possam encontrar uma voz própria e prosseguir a renovação dentro da continuidade, que neste álbum, ainda é demasiado tímida. Assim Uderzo e a editora lhes deem oportunidade para isso…
(“Astérix entre os Pictos”, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, Edições Asa, 48 pags, 12,90 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 02/11/2013

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