sexta-feira, 29 de novembro de 2013

DC Comics Uncut 20 - Super-Homem e Batman: A Rapariga de Krypton



Ao mesmo tempo que chega ás bancas o primeiro volume da segunda série da DC Comics, editada pela Levoir, agora distribuída com o semanário Sol, aqui fica o último editorial da série I, assinado, tal como aconteceu com o primeiro desta série, pelo José de Freitas


Uma Rapariga fora deste Mundo

Quando surgiu, o Super-Homem tornou-se no primeiro de todos super-heróis, e não só dos heróis terráqueos, já que a sua origem era alienígena. Salvo pelos seus pais verdadeiros da destruição da civilização kryptoniana, cujo planeta explodiu, foi lançado numa nave através do cosmos até chegar à Terra, acabando por ser educado pelos seus pais adoptivos. Mas um planeta com uma tecnologia tão avançada como a de Krypton possuía demasiadas potencialidades, e os autores da DC cedo perceberam que onde um kryptoniano tinha sobrevivido, outros poderiam também ter sido salvos, abrindo as portas à existência de uma verdadeira galeria de heróis e vilões que foram chegando à Terra ao longo dos anos. Desde o General Zod e de Ursa, super-vilões com os mesmos poderes que o Super-Homem, passando por Krypto, o Supercão, até Kandor, uma cidade inteira de kryptonianos que tinha sido encolhida por Brainiac e que sobreviveu à destruição do seu planeta natal. Mas provavelmente a mais popular das personagens de Krypton depois do Super-Homem terá sido a sua prima Kara Zor-El, a Supermoça.

Kara Zor-El aterrou na Terra e nas páginas da revista Action Comics #252 em 1959, numa história intitulada, tal como esta que têm nas vossas mãos, The Supergirl from Krypton (traduzida para português como A Rapariga de Krypton). Nessa história, escrita por Otto Binder e ilustrada por Al Plastino, Kara Zor-El é enviada para a Terra pelo seu pai Zor-El, um cientista kryptoniano, irmão de Jor-El, pai do Super-Homem. Os dois são portanto primos, e ambos são também órfãos. Zor-El tinha conseguido salvar a cidade de Argo da destruição de Krypton, e durante anos os campos de força que tinha criado em redor da cidade tinham permitido que esta sobrevivesse flutuando pelo espaço. Mas um dia, uma chuva de meteoros destrói a esfera de ar que rodeia Argo, condenando-a à morte, e Zor-El e a sua mulher Alura enviam Kara para a Terra, onde reside o último kryptoniano que poderá cuidar dela. Será o Super-Homem a enviar Kara para o orfanato da pequena cidade de Midvale, e a arranjar-lhe a sua identidade secreta de Linda Lee. A personagem teve imenso sucesso, e durante anos partilhou as páginas da revista Action Comics com o Super-Homem, antes de se estrear como personagem principal, primeiro na revista Adventure Comics, e logo a seguir, nos anos 1970, na revista Superman Family, antes de finalmente ter o seu próprio título.

Mas a grande mudança na vida da Supermoça veio com a Crise nas Terras Infinitas, como já tivemos ocasião de ver nesta colecção. A saga permitiu à DC reorganizar o seu universo de super-heróis, e uma das ideias que surgiu foi a de voltar a fazer do Super-Homem “O Último Kryptoniano”. Como diz Marv Wolfman na introdução à edição compilada da história, “Antes da Crise, parecia que mais de metade do planeta Krypton tinha sobrevivido à destruição. Tínhamos o Super-Homem, mas também a Supermoça, Krypto, os vilões todos da Zona Fantasma, a cidade de Kandor dentro duma garrafa, e muito mais. Decidimos voltar à origem e fazer de Kal-El o único sobrevivente de Krypton. É triste, claro, mas foi essa a razão pela qual Kara Zor-El teve de morrer.” No serviço fúnebre que marca a morte da Supermoça às mãos do Antimonitor, quando salvava o Super-Homem, a Batmoça declara que “Ela era uma heroína, e não será esquecida”. E não seria. A sua popularidade ao longo das décadas seguintes continuaria, inspirando muitas histórias alternativas e personagens semelhantes. Mas seria só no início dos anos 2000 que ela reapareceria definitivamente nas páginas da revista Superman/Batman.

Porque não devemos esquecer que esta história não é só uma história da Supermoça, é antes de tudo uma história da maior dupla de super-heróis de sempre, o Cavaleiro das Trevas e o Homem de Aço. Em 2004 a DC Comics decidiu relançar uma série regular que protagonizasse o Super-Homem e o Batman juntos, reatando assim com a tradição de títulos como World’s Finest. O novo título, chamado simplesmente Superman/Batman, ficou a cargo do argumentista Jeph Loeb, que se encarregaria de actualizar o conceito para o século 21 e de escrever os primeiros 25 números. A revista estava organizada em histórias de seis números cada, com ocasionais números únicos intercalados, e cada arco de história ficaria a cargo de um artista escolhido entre os maiores nomes daquela altura. Jeph Loeb iniciou a sua carreira nos anos 1980 como argumentista de cinema, trabalhando em filmes como Teen Wolf ou Commando. Foi quando trabalhava para um guião para um possível filme do Flash que começou a escrever argumentos de banda desenhada, sobretudo para a DC, que lhe granjeariam inúmeros prémios por obras das mais significativas nos comics, como Batman: The Long Halloween e Batman: Dark Victory, ou Superman For All Seasons (todos estas com o artista Tim Sale, um dos seus parceiros de longa data), ou Batman: Silêncio (com Jim Lee), já editado no nosso país pela Devir. Em anos mais recentes, Loeb tem feito muito trabalho para a Marvel, e continuou a sua carreira como argumentista de televisão, trabalhando em séries tão famosas quanto Lost ou Heroes.

Quanto ao artista canadiano Michael Turner, que desenha este segundo arco de história da revista, é justo dizer que foi uma das estrelas que brilhou mais fortemente nos comics americanos, mas infelizmente por muito pouco tempo. Turner iniciou a sua carreira no final dos anos 90, na Top Cow, um dos estúdios da Image Comics, onde ajudou a criar Witchblade e trabalhou noutras séries, como Darkness, tendo lançado em 1998 a sua própria série, Fathom, que se tornou num comic de culto entre os fãs americanos. Infelizmente, passado muito pouco tempo foi-lhe diagnosticado um cancro, e em consequência disso a sua capacidade de trabalho foi bastante afectada. Fez alguns trabalhos para a DC Comics, entre os quais muitas capas, esta história do Batman e do Super-Homem - a única vez que desenhou uma história que não fosse sua ou da Top Cow - e trabalhou também como argumentista na história Godfall, uma saga do Super-Homem. Michael Turner faleceria em 2008, e durante os últimos anos de vida fez algum trabalho para a Marvel Comics e para a série Heroes, mas já se encontrava muito debilitado. Podemos dizer sem grandes reservas que Turner poderia ter sido um dos maiores nomes dos comics de super-heróis se não tivesse sido vítima duma doença que o levou com apenas 37 anos de idade.

Nesta história, Loeb reaproveitou elementos do arco de história inicial da série, Public Enemies, que ocupou os números 1 a 6 da revista. Essa história foi uma das mais marcantes daquela época, já que na altura Lex Luthor era Presidente dos Estados Unidos, e em consequência dos acontecimentos desta saga será finalmente exposto ao mundo como o verdadeiro vilão por trás duma vasta conspiração, e forçado a abandonar a presidência. Mas essa conspiração teve início na descoberta dum asteróide que se dirigia para a Terra. Descobre-se nesta história que têm em mãos que esse asteróide continha uma cápsula que transportava a prima do Super-Homem, Kara Zor-El, em animação suspensa desde a destruição de Krypton, com um pormenor novo: Kara nasceu antes do seu primo Kal-El, o Super-Homem, e a sua nave foi lançada de Krypton ao mesmo tempo que a do seu primo, mas ficou perdida no espaço mais tempo, fazendo com que ela se tornasse mais nova do que ele. Como Loeb diz: “Eu e o meu editor, Eddie Berganza, começámos a especular e a divertir-nos com a ideia de que podia haver “algo” dentro daquele asteróide, e que se calhar o Lex Luthor não estava assim tão maluco, porque o asteróide vinha mesmo de Krypton”.

A história teve imenso sucesso, tanto que foi decidido que a personagem merecia o seu próprio título. No entanto, a primeira história a solo de Kara Zor-El como Supermoça seria publicada ainda no #19 de Superman/Batman com argumento de Jeph Loeb, e seria relançada a seguir como # 0 da nova revista Supergirl. O desenho seria confiado ao britânico Ian Churchill, um artista que teve uma ascensão muito rápida nos comics, com obras nas principais editoras americanas, e que se tornou entretanto num dos desenhadores com que Loeb mais colaborou em séries independentes. É essa a história que encerra este volume, e que nos permite finalmente ver, já não a jovem Kara Zor-El à procura do seu lugar num mundo que não é o seu, e a tentar conquistar a confiança dos membros da Liga da Justiça, mas sim a Supermoça no seu uniforme de super-heroína, a enfrentar os desafios do universo DC!

José Hartvig de Freitas

domingo, 24 de novembro de 2013

DC Comics Uncut 19 - Super-Homem: A Legião dos Super-Heróis


O LEGADO DO FUTURO

A chamada Era de Prata dos comics foi um período no qual se criaram e estabeleceram alguns dos mais marcantes e duradouros aspectos da mitologia de muitos super-heróis. Foi uma época de criatividade desenfreada, em que viagens no tempo eram feitas de ânimo leve, breves paragens intergalácticas se resolviam em poucas páginas, e segredos obscuros e comprometedores do passado atormentavam as personagens num único número, para nunca mais serem mencionados. Em semelhante conjuntura, a premissa de o Super-Homem ser visitado durante a sua juventude por três viajantes do tempo não causou estranheza a ninguém... nem mesmo quando esses três se revelaram como membros de uma tal de Legião dos Super-Heróis — um «clube» de super-heróis do futuro, cuja formação fora inspirada pela lenda do Super-Homem — e que tinham decidido viajar para o passado com o intuito de o recrutarem. Essa singela história teve lugar em Adventure Comics #247 (1958), uma publicação que relatava as aventuras de Superboy — como o Super-Homem foi conhecido durante a adolescência nessa era — e podia ter acabado aí, tal como tantas outras aventuras inconsequentes da época. Só que esses três jovens do futuro e o potencial das histórias que eles tinham para contar intrigaram os leitores, que manifestaram interesse em ler mais sobre eles. Mort Weisinger e Otto Binder, os responsáveis pela criação do conceito, fizeram a vontade ao público e a Legião dos Super-Heróis foi o foco de várias outras aventuras nos anos seguintes, alternando entre os periódicos Adventure Comics, Action Comics e Superboy.

Tal como mais tarde se veio a saber, tudo começou no futuro, em pleno século 30, quando três adolescentes com superpoderes salvam acidentalmente R.J. Brande, o homem mais rico do universo. Grato e impressionado pelo potencial dos jovens, Brande encoraja-os a seguirem as passadas do lendário Superboy e, para que eles melhor pudessem usar os seus poderes ao serviço do Bem, financia a criação de um grupo oficialmente ratificado pelo governo: a Legião dos Super-Heróis. Intitulando-se agora de Cósmico, Relâmpago e Satúrnia, os três membros fundadores não tardaram a receber candidaturas de todos os cantos do universo, fazendo jus ao nome de «legião» num longo processo de recruta que culminou com uma viagem ao passado, na qual alistaram o próprio Superboy, que a partir de então se tornou numa personagem recorrente das aventuras do grupo. Dessa forma, os Legionários cimentaram a sua ligação à mitologia do Super-Homem à medida que iam conquistando o seu próprio espaço no Universo DC, no qual, embora não tivessem sequer um título a que pudessem chamar seu, começaram a adquirir uma identidade muito própria, que atraía cada vez mais fãs leais.

Fãs esses que participavam activamente no processo criativo, influenciando a liderança rotativa do grupo ao votarem durante as periódicas eleições da Legião, sugerindo novas personagens e escolhendo fatos novos para os membros, o que fazia deles um subconjunto único e invulgarmente pró-activo da fandom da DC. A começar por um tal de Jim Shooter, um dos nomes grandes da indústria, que aos 13 anos de idade escreveu e desenhou umas histórias da Legião e as enviou ao editor Mort Weisinger. Algumas dessas histórias foram redesenhadas por artistas profissionais e subsequentemente publicadas, naquele que foi um contributo notável e duradouro para a mitologia da franquia. Outros fãs de renome foram Mike Flynn e Harry Broertjes, que, durante uma fase complicada dos Legionários durante o início dos anos 70, fundaram um fã-clube e fanzine extremamente populares, que revitalizaram o interesse dos leitores na Legião dos Super-Heróis e que tiveram o seu peso na decisão da DC em finalmente dar à equipa o seu próprio título: Superboy starring the Legion of Super-Heroes (1973), mais tarde Superboy and the Legion of Super-Heroes (1976), até se assumir definitivamente como Legion of Super-Heroes em 1980. Em reconhecimento do seu empenho, Flynn e Broertjes tiveram direito a uma homenagem muito especial numa aventura dos Legionários, na qual estes são auxiliados por um fã que dava pelo nome de Flynt Brojj. A resposta do público foi positiva e, no final dos anos 70, a Legião era o título da DC que mais correio de leitores recebia, e na década de 80 foi um dos títulos mais aclamados pela crítica e com maior sucesso comercial.

Não é muito difícil perceber qual a atracção por detrás destes jovens com super-poderes do século 30, a começar pela mensagem implicitamente positiva que a sua mera existência incorpora: o futuro é risonho. E fascinante, com carros voadores, refeições sintetizadas, cinemas sensoriais, discotecas antigravitacionais e planetas inteiros convertidos em parques de diversão. Tinha tanto de ópera espacial como de telenovela, com gente jovem, bonita e em trajes justos a viver aventuras fantásticas intercaladas com férias e romance, conseguindo manter relações saudáveis com os pais mas sem deixar que o controlo parental influenciasse as suas vidas. Em suma, um grito do Ipiranga vicário para todo e qualquer adolescente. Mas essa era apenas uma das facetas que tornaram a Legião tão apelativa para os leitores, sendo a outra a sofisticação das próprias histórias à frente do seu tempo, que abordaram temáticas controversas como o racismo e a sexualidade. Além disso, uma vez que ocupavam o seu próprio canto no Universo DC, não havia qualquer problema em as personagens envelhecerem, casarem, terem filhos... ou mesmo morrerem, como aconteceu a vários infelizes membros, alguns sem direito a subsequente ressurreição. Tudo isso fazia da Legião um título muito idiossincrático, juntamente com o seu vastíssimo elenco principal e secundário — no qual se incluía a Legião dos Heróis Substitutos, a Academia da Legião e a Reserva da Legião — e, acima de tudo, a sua memorável galeria de vilões: o Quinteto Fatal, o Senhor do Tempo, Mordru o Implacável, Universo, a Legião dos Supervilões e muitos mais.

No entanto, a nível conceptual havia algo de problemático com a Legião. Em virtude da inerente mutabilidade do futuro, ela estava mais vulnerável ainda à mudança do que qualquer outra propriedade da DC, sobretudo ao tipo de mudança que crises com «C» maiúsculo costumam acarretar. Devido às alterações drásticas que a cronologia do Universo DC repetidamente sofreu, a Legião dos Super-Heróis teve quatro encarnações bem distintas umas das outras ao longo de mais de cinquenta anos de história, alternando entre o distópico e o utópico, entre a subversão e a probidade, sendo repetidamente rejuvenescidos e envelhecidos, e vendo mesmo a dada altura alterada por completo a sua origem e razão de ser. O livro que o leitor agora tem em mãos assinala o regresso definitivo da encarnação «original» pelas mãos de Geoff Johns, que em 2008 uniu forças com o conceituado artista Gary Frank para um arco narrativo destinado a dar continuidade à sua reinvenção da franquia, essa iniciada no ano anterior no evento intitulado The Lightning Saga. Naquele que já é conhecido como o seu modus operandi, Johns vai ao cerne da Legião, mina aquilo que as histórias clássicas tinham de melhor e reembala-as em função das sensibilidades modernas dos leitores actuais neste Super-Homem: Legião dos Super-Heróis.

O futuro afinal parece tudo menos risonho, e talvez nem mesmo o herói que inspirou a Legião seja capaz de a salvar quando o mundo inteiro se vira contra os seus antigos protectores e os obriga a viverem como foras-da-lei a monte. Escorraçados, dispersos e perseguidos por um regime totalitário e opressivo — cujos alicerces assentam em alguns erros passados do grupo — os Legionários terão de limpar o seu nome de alguma forma, não só para salvarem as próprias vidas, como também para salvaguardarem a integridade dos ideais pelos quais sempre lutaram. Trata-se de uma história na qual o Super-Homem tem de provar que, mais do que a super-força ou a invulnerabilidade, talvez seja a sua capacidade de inspirar os outros o seu maior poder, ao deparar-se com uma ameaça que não tem como combater sozinho. Mas trata-se acima de tudo de uma história da Legião, uma das mais historiadas e coloridas propriedades da DC Comics, que vê epitomados pelos Legionários o optimismo e o idealismo pelos quais a editora tradicionalmente sempre se destacou. Isto porque, no contexto deste universo ficcional, a mera existência da Legião significa que, desde que os heróis do presente façam o seu trabalho, existem boas razões para olhar o futuro com esperança. Que assim continue durante muito tempo.

Longa Vida à Legião!

FILIPE FARIA

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Cinema e Banda Desenhada no Cineclube de Tomar


O Cineclube de Tomar vai apresentar um conjunto de filmes subordinado ao tema Cinema e Banda Desenhada Francesa

Este Ciclo será apresentado em dois fins de semana: 21, 22, 23 de Novembro, e 5, 6, 7 de Dezembro. Em cada fim de semana teremos duas sessões para adultos e duas sessões infantis. As sessões infantis (às 15.30h) terão entrada livre.
Nas sessões para adultos serão cobrados os valores habituais.

Organizadores:
João Miguel Lameiras, Mestre em História da Arte pela Universidade de Coimbra e docente nos Mestrados de Ilustração e Animação da ESAP em Guimarães e do IPCA em Barcelos, tem desenvolvido vasta actividade no campo da Banda Desenhada enquanto crítico, investigador, conselheiro editorial, livreiro, tradutor e curador de diversas exposições. Autor do blog “Por um Punhado de Imagens”

João Miguel Reis, médico, amante de BD, e livreiro especializado em BD.

Duas artes visuais nascidas no final do século XIX, o Cinema e a Banda Desenhada percorreram um longo caminho juntas, de que o actual boom de adaptações cinematográficas de super-heróis levadas a cabo pelos grandes estúdios de Hollywood, é a face mais visível, com um protagonismo tal que acaba por tirar visibilidade a outras adaptações, feitas deste lado do Atlântico.

Concretamente, o cinema de expressão francesa tem uma grande ligação com a Banda Desenhada, menos conhecida do grande público e que, por isso mesmo, importa divulgar.

Uma ligação que começa mesmo com os irmãos Lumiere, cujo filme “L'Arroseur Arrosé” adapta directamente uma BD popularizada pelas célebres “Images d' Epinal”, gravuras vendidas avulsas muito populares no século XIX e inícios do século XX.

Uma ligação que se mantém até à actualidade, onde encontramos autores de BD como Enki Bilal, Marjane Satrapi e Joann Sfar a adaptarem os seus próprios livros ao cinema. É esse universo criativo que pretendemos mostrar num ciclo dedicado ao cinema e à Banda Desenhada francesa.

Programação 1º fim de semana:


21 de Novembro: Barbarella, de Roger Vadim (19h)  

22 de Novembro: O Menino Nicolau, de Laurent Tirard (15.30h)
                              Galinha com Ameixas, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud (21.30H)
                           
23 de Novembro: Titeuf, de Zep (15.30h)


Programação 2º fim de semana:


5 de Dezembro: Imortal, de Enki Bilal (19h)

6 de Dezembro: O Gato do Rabino (15.30h)
                           A Vida de Adèle de Abdellatif Kechiche (Palma de Ouro no Festival de Cannes 2013) (21.30h)
                                                     
7 de Dezembro: Astérix e Cleópatra, de Jean Chabat (15.30h)

Se estiverem por esses lados, apareçam!

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sábado, eles vão estar no Dr. Kartoon!


Como não podia deixar de ser, a Livraria Dr. Kartoon é um ponto de passagem obrigatório da tournée de lançamento do 3º volume da série Dog Mendonça, que Filipe Melo e sus muchachos, andam a fazer pelo país.
Assim, no sábado, 16 de Novembro, a partir das 18h30m, lá vos esperamos na Dr. Kartoon. para dois dedos de conversa e um autógrafo, com o Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa. Para o pessoal que fôr de Lisboa, fica o encontro marcado para o dia seguinte, no Fórum Fantástico, a decorrer desde esta sexta-feira, na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Telheiras. Apareçam!.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

DC Comics Uncut 18 - Batman: Outros Mundos


OUTROS MUNDOS, O MESMO BATMAN

Todos conhecemos bem os principais heróis da DC comics. As suas origens, poderes, os seus principais amigos e adversários, o meio onde se movimentam… Mas, e se esses heróis familiares fossem retirados dos cenários habituais das suas aventuras e “transportados para outros tempos ou lugares - lugares que existiram, ou podiam ter existido, ou outros que não existem, não podiam, ou não deviam existir. O resultado são histórias que fazem com que as personagens que são tão familiares como o dia de ontem pareçam tão inovadoras como o dia de amanhã”.

Estas palavras, escritas por Denny O’Neil, definem com exactidão a premissa que orienta este volume e a linha Elseworlds, ou em português, Outros Mundos. Uma linha em que é dada aos autores a liberdade de pegar em personagens icónicas e imediatamente reconhecíveis, heróis clássicos como o Batman, Super-Homem e Mulher-Maravilha e transpô-los para contextos diferentes e inesperados, sejam épocas distantes ou mundos estranhos, jogando com essa diferença para criar histórias únicas, impossíveis de concretizar no contexto tradicional da cronologia regular do universo DC. Se as histórias imaginárias não eram exactamente uma novidade na DC Comics, sendo bastante frequentes durante a década de 60, especialmente nas revistas do Super-Homem editadas por Mort Weisinger que, não por acaso, era conhecido como “o rei das histórias imaginárias”, a linha Elseworlds, activa entre 1989 e 2005, veio desenvolver esse conceito, sem colocar qualquer limite às suas imensas potencialidades, levando-o até bastante mais longe do que Weisinger poderia sequer sonhar.  
As histórias protagonizadas pelo Batman que publicamos neste número exploram precisamente as imensas possibilidades proporcionadas pela linha Elseworlds, transpondo o Cavaleiro das Trevas para os finais do século XIX, onde tem de defrontar  Jack, o Estripador, numa Gotham City iluminada por candeeiros a gás e onde as sombras e o nevoeiro criam uma atmosfera tão misteriosa como sombria, ou transformando-o num vampiro de modo a combater a ameaça do mais poderoso de todos os vampiros, o Conde Drácula, ou ainda levando-o a enfrentar uma entidade lovecraftiana num cemitério, numa história em que as fronteiras entre o sonho e a realidade são demasiado difusas para serem perceptíveis.

Uma das razões que levaram Bruce Wayne a adoptar a imagem de um morcego, foi a necessidade de “infundir o terror no coração dos criminosos” e as três histórias que compõem este volume, mostram a forma como o terror e o Cavaleiro das Trevas podem andar de braço dado, ao tocarem diferentes géneros de terror. Gotham By Gaslight é um conto policial, com um clima de terror vitoriano, protagonizado pelo primeiro e mais famoso de todos os serial killers, Jack, o Estripador; Batman & Dracula: Red Rain é uma história de vampiros que tem Gotham City como cenário, mas uma Gotham City que parece saída do cruzamento entre a frieza de um filme expressionista alemão e a sensualidade dos filmes de vampiros da produtora Warren; enquanto que Sanctum é uma história de fantasmas, ambientada num cemitério e cheia de referências à obra de do escritor H. P. Lovecraft.
Publicada originalmente em 1989, Gotham by Gaslight é anterior à criação oficial da linha Elseworlds, mas foi posteriormente considerada como a primeira história do género, até porque foi o seu grande sucesso, tanto comercial, como crítico, que levou a DC a explorar de forma consistente as infinitas potencialidades deste tipo de histórias. Pensada originalmente para uma edição anual da revista Batman, a história, nascida de uma simples conversa entre o editor Mark Waid e o argumentista Brian Augustyn, rapidamente ganhou outra dimensão, graças ao entusiasmo do editor-chefe Dick Giordano e do desenhador Mike Mignola, cujo traço único, muito bem servido pela arte-final de P. Craig Russell contribuiu para a atmosfera sombria do livro.

Mignola, que tinha acabado de desenhar Cosmic Odissey, uma saga cósmica escrita por Jim Starlin, em que a Liga da Justiça se confronta com os personagens criados por Jack Kirby para o seu Fourth World, não pretendia continuar a ser conotado com as histórias tradicionais de super-heróis e Gotham By Gaslight permitia-lhe mudar de registo, numa história de época, em que a pesquisa histórica é fundamental, pois Bruce Wayne cruza-se com Sigmund Freud e personagens reais como Ted Roosevelt e os actores Conrad Vedlt e Bela Lugosi emprestam as suas feições a alguns dos protagonistas.
Publicada originalmente em 1991, e colocada pelo site especializado IGN Comics no Top Ten das melhores novelas gráficas protagonizadas pelo Cavaleiro das Trevas, Batman & Dracula: Red Rain, coloca o homem morcego em confronto com o mais famoso vampiro da literatura, o Conde Drácula, criado por Bram Stoker. Mas, mais do que ao romance original vitoriano, o livro escrito por Doug Moench presta homenagem ao cinema expressionista alemão dos anos 30, aos filmes de terror da Hammer, protagonizados por Peter Cushing e Christopher Lee e à arquitectura de Gaudí, contando com o contributo inspirado do traço pormenorizado de Kelley Jones e da arte-final de Malcom Jones III, dupla que estava perfeitamente à vontade a ilustrar histórias de terror e fantasia, por ter colaborado regularmente com Neil Gaiman na prestigiada série Sandman.

Publicada originalmente em 1993, no nº 54 da revista Legends of the Dark Knight, Sanctum não pode ser considerada como pertencendo à linha Elseworlds, mas o facto de assinalar o regresso de Mignola ao Batman depois de Gotham By Gaslight, de ser uma das melhores histórias de terror com o Batman como protagonista e de ser um momento incontornável da evolução do desenhador como criador, levaram-nos a incluí-la neste volume. Embora Dan Raspler surja creditado como argumentista, esta é uma história imaginada por Mignola, em que o seu universo estético e criativo já está bem presente. Ou seja, embora Sanctum seja uma história do Batman, o Mignola que conhecemos da série Hellboy, já é visível aqui e a história funcionaria igualmente bem se Hellboy substituísse o Cavaleiro das Trevas como protagonista. Veja-se a planificação, o uso das sombras, ou a utilização dos cenários, mais sugeridos do que representados, para criar um ambiente de terror gótico.

O próprio Mignola é o primeiro a reconhecer numa entrevista à revista Comic Book Artist a importância de Sanctum na criação de Hellboy: “era uma história de fantasmas, com o Batman e eu fiquei muito satisfeito com o resultado e com vontade de fazer mais histórias dessas. Será que devo criar mais histórias destas e tentar encaixar nelas o Batman, o Wolverine, ou outro personagem do género, ou devo criar um personagem meu especificamente para ser o protagonista desse tipo de histórias?”. O aparecimento de Hellboy, pouco tempo depois, não deixa dúvidas quanto à resposta encontrada por Mignola…
As aventuras do Batman da era vitoriana prosseguiram em Batman: Master of The Future, com o traço clássico e elegante de Eduardo Barreto a substituir, sem grandes vantagens o desenho mais ambiental de Mike Mignola, enquanto a trilogia de aventuras do Batman Vampiro, prosseguiu nas histórias Bloodstorm, de 1994, e Crimson Mist, de 1999, mas foi nas histórias incluídas neste volume que tudo começou. Tal como também é aqui que encontramos o ponto de viragem no estilo e na carreira de um dos mais influentes criadores de comics das últimas décadas, Mike Mignola.


DC Comics UNCUT 17 - Lanterna Verde: Origem Secreta


DA NOITE MAIS DENSA AO DIA MAIS CLARO

Para quem não é leitor assíduo de comics, o Lanterna Verde talvez seja daqueles heróis que se conhece, mas acerca do qual pouco se sabe, apesar de ele ser um dos «Sete Grandes» da afamada Liga da Justiça. Para isso, muito contribuiu o errático histórico de publicação da personagem, embora na última década tenha conseguido cimentar o seu estatuto como uma das estrelas maiores do panteão da DC. Seja como for, e independentemente do seu sucesso comercial ou da estabilidade do seu periódico, o Lanterna Verde foi frequentemente uma espécie de «farol» para o Universo DC, sinalizando o rumo durante algumas das épocas mais marcantes da história da editora.

Criado por Bill Finger e Martin Nodell na Idade de Ouro dos comics, a primeira encarnação do Lanterna Verde dava pelo nome de Alan Scott, um engenheiro ferroviário cuja vida mudaria para sempre em All-American Comics #16 (1940). Indumentado com um fato particularmente chamativo, munido de um anel mágico e uma lanterna verde provenientes de um meteorito que caíra na antiga China (e que lhe caíram nas mãos para que pudesse punir os responsáveis por um mortífero acidente ferroviário), Alan Scott reunia assim os ingredientes para uma personagem que incorporava vários dos elementos pulp que capturavam o espírito da época. Aquando da sua estreia, o Lanterna Verde era um dos mais poderosos heróis do mundo, capaz de efectuar autênticos milagres com o poder aparentemente ilimitado do seu anel, que tinha contudo um ponto fraco: era incapaz de afectar madeira ou matéria vegetal. Este aparentemente arbitrário calcanhar de Aquiles era um constante entrave e empecilho nas aventuras de Alan Scott, que invariavelmente se via atingido por paus e enfrentava algozes compostos de matéria vegetal ou capazes de controlar plantas. Outro ponto fraco era a carga limitada do anel místico, que tinha de ser recarregado a cada 24 horas pela lanterna verde que dava o nome à personagem, num ritual pontuado por um simples juramento solene, que foi evoluindo ao longo dos anos e que viria a tornar-se numa peça fundamental do legado e posterior mitologia da figura. Alan Scott foi uma personagem popular nos anos 40, aventurando-se sozinho no seu próprio título e em All-Star Comics com a Sociedade da Justiça da América, da qual foi membro e líder. Porém, tal como referido num anterior editorial, os super-heróis tiveram vida complicada após o final da 2ª Guerra Mundial, e a carreira do primeiro Lanterna Verde decaiu de forma acentuada no final da década. O periódico Green Lantern foi cancelado em 1949 e foi precisa uma espera de 10 anos até a luz do Lanterna Verde tornar a luzir, como que sinalizando a alvorada da Idade da Prata dos comics.

Em 1959, e perante as claras evidências de que os leitores davam mostras de um renovado interesse por super-heróis, o lendário editor Julius Schwartz quis repetir o mesmo tratamento que fora dado a uma outra personagem dos anos 40, o Flash, e alistou John Broome e Gil Kane para recriarem o Lanterna Verde. Uma vez que o volume em mão trata precisamente da origem de Hal Jordan, o piloto de prova que se tornaria no segundo Lanterna Verde, este editorial não se alongará muito acerca da génese da personagem, mas sim das diferenças que a distinguem do seu predecessor e de como estas pautaram a evolução de uma parte considerável do Universo DC. O anel e a bateria mantiveram-se, mas a natureza de ambos era agora científica e não mística, e ambos os artefactos eram obra de uma raça de potestades benignas que dedicavam as suas vidas à protecção do universo e se auto-intitulavam de Guardiões. Desta forma, o Lanterna Verde deixou de ser um herói baseado na Terra e a jurisdição dele estendeu-se a todo um sector espacial, o que deu uma nova esfera de acção às suas aventuras, cuja dimensão se expandiu mais ainda com a inclusão de um importantíssimo novo elemento: o Corpo dos Lanternas Verdes. Esta força policial intergaláctica composta de milhares de Lanternas de todos os cantos do universo rapidamente se tornou num dos principais esteios da DC, e viria a servir de base para algumas das mais marcantes sagas das décadas seguintes. Outro aspecto que se manteve foi o aparentemente arbitrário ponto fraco do anel, sendo que a madeira se viu substituída pela cor amarela, contra a qual a energia da bateria nada podia. Desta feita, o calcanhar de Aquiles foi explicado como uma «impureza necessária» na bateria, e escusado será dizer que não houve falta de inimigos e ameaças com guarda-roupa ou tez em tons amarelados. Este novo Lanterna Verde foi um sucesso, e Hal Jordan rapidamente ganhou a sua própria casa com o relançamento de Green Lantern em 1960, um título que, apesar do cariz cósmico das suas aventuras, pautou pela diferença de forma curiosamente mundana, nomeadamente a inclusão de personagens de minorias que não eram representadas como estereótipos, um aspecto no qual as histórias do Lanterna Verde foram pioneiras. A indústria dos comics espelhava assim as mudanças que se começavam a fazer sentir na consciência social americana do final da década de 60, sobretudo o movimento de contracultura que então predominava e que se reflectiu de forma notória no Lanterna Verde em particular.

Tal como o leitor pôde constatar em Lanterna Verde e Arqueiro Verde: Inocência Perdida (outro volume da presente colecção a não perder), Hal Jordan deu corpo à desautorização das normas vigentes da sua época e sofreu uma profunda crise de identidade, que culminou com o cancelamento do seu título em 1972, e a sua viagem de auto-(re)descoberta teve de continuar na forma de histórias complementares nas páginas de The Flash durante quatro anos. Green Lantern só regressou às bancas em 1976, e continuou a espelhar os danos que a guerra do Vietname e o escândalo de Watergate haviam infligido à auto-confiança e fé dos norte-americanos na sua presidência. Hal Jordan punha cada vez mais em causa o discernimento dos Guardiões e a situação chegou a um ponto crítico na década de 80, quando ele se viu forçado a escolher entre o dever e o amor, e acabou por abandonar o Corpo dos Lanternas Verdes. Não foi senão após a Crise nas Terras Infinitas (um evento espoletado pelas acções de um membro renegado da raça dos Guardiões, note-se) que Hal Jordan regressou ao Corpo, mas o seu título foi novamente cancelado em 1986. O que nem por isso diminuiu o impacto da mitologia do Lanterna Verde no resto do Universo DC, tal como o atesta a mini-série Millennium (1988), na qual se revela a terrível trama milenar dos Caçadores, os predecessores do Corpo. Enquanto isso, as aventuras do Lanterna Verde prosseguiram no título de antologia Action Comics Weekly, até Green Lantern ser novamente relançado em 1990.

Muitas outras mudanças se avizinhavam, no entanto. Além de ser dos poucos heróis de alto gabarito a envelhecerem visivelmente nas páginas do seu próprio título, qual baby boomer confrontado com a sua mortalidade e com as escolhas da sua vida, Hal Jordan tornou-se subsequentemente num dos mais proeminentes exemplos da mudança — a palavra de ordem da década de 90 — na DC. Numa altura em que o mundo assistia a um tremendo realinhamento do poder económico e político, à proliferação dos novos média e a um crescente cepticismo para com a ordem social estabelecida, vários super-heróis tombaram ou foram substituídos, e o Lanterna Verde foi quem sofreu a mais duradoura perda. A sua cidade-natal foi nivelada e Hal Jordan, tomado pelo pesar, tentou reconstrui-la com o poder do seu anel, que lhe foi então negado pelos Guardiões. Em resultado de tão grande perda e daquilo que viu como frieza e ingratidão dos seus mestres, Jordan enlouqueceu, destruiu o Corpo dos Lanternas Verdes e tornou-se no vilão Parallax, que mais tarde foi morto ao tentar reescrever a história em Zero Hour (1994). Foi então substituído por uma nova personagem, Kyle Rayner, que se tornou no novo Lanterna Verde. Hal Jordan apenas regressou em definitivo uns dez anos mais tarde em Green Lantern: Rebirth (2004), uma série limitada que redimiu e ressuscitou a personagem, dando início a uma autêntica vaga revivalista na DC Comics nos anos 00, nos quais, espelhando de certa forma o saudosismo que se fazia sentir na cultura popular, o panorama da DC viu o regresso de uma série de velhas personagens e conceitos. Foi esse o princípio do apogeu do Lanterna Verde, que às mãos de Geoff Johns viu redefinidos e modernizados inúmeros aspectos da sua mitologia e se tornou no portador da tocha para o rumo narrativo do Universo DC na década seguinte, conduzindo-o através de várias sagas de enorme sucesso como Sinestro Corps War (2007), Blackest Night (2009) ou Brightest Day (2010).

Assim, ao fim de mais de 50 anos de existência (70, se contarmos com Alan Scott), o Lanterna Verde é hoje uma das séries mais bem-sucedidas da indústria, tendo dado origem a uma autêntica «família» de títulos, algo que apenas está ao alcance dos nomes maiores dos comics — um estatuto que não mais pode ser negado a esta atribulada e fascinante personagem, cuja origem é recontada neste Lanterna Verde: Origem Secreta para novas e velhas gerações de leitores em igual medida.

FILIPE FARIA

domingo, 3 de novembro de 2013

Crítica ao novo álbum de Astérix


Desde a passada quinta-feira, que chegou às livrarias de toda a Europa, incluindo Portugal, “Astérix entre os Pictos” o tão aguardado 35º álbum da série Astérix, e o primeiro sem a assinatura de qualquer um dos seus criadores originais.
Com uma tiragem inicial de 2 milhões de exemplares, só em língua francesa, que esgotou numa semana, o novo Astérix, mais do que um livro, é um acontecimento mediático, que mereceu grande destaque em toda a imprensa, em que, dos jornais à Internet, muito se escreveu sobre o novo livro, que praticamente ninguém tinha tido ainda oportunidade de ler.
Mas agora, que o álbum já está nas livrarias e nas mãos de muitos leitores há mais de uma semana, podemos confirmar que, mesmo sem deslumbrar, o novo livro está à altura das expectativas e um largos furos acima dos últimos álbuns assinados por Uderzo, o que reconheça-se, só por si não é grande proeza, tal o nível a que a série tinha descido…

Profissionais competentes, Ferri e Conrad dão bem conta do pesado caderno de encargos, que no caso de Conrad implicou desenhar um livro de 48 páginas, num estilo que não é o seu, em apenas 6 meses. Uma tarefa ciclópica, de que se saiu com distinção, mesmo que seja evidente uma evolução ao longo do álbum (compare-se a vistosa mulher de Agecanonix das primeiras páginas, com a das últimas). Já Ferri, saiu-se também bastante bem da missão de recriar na sua história, os álbuns daquela que considera como a época de ouro da série, os anos 70 e, mesmo sem nunca atingir o nível de Goscinny (uma missão impossível), constrói uma história de viagens escorreita, com alguns trocadilhos bem conseguidos, embora nem todos resistam bem à tradução, e momentos divertidos, como o funcionário romano que pretende fazer um censo à população da aldeia gaulesa.
Ainda assim, a história peca por uma linearidade excessiva, pela pouca acção e pelo deficiente aproveitamento das potencialidades de uma figura como o Monstro de Loch Ness, cuja imagem parece ter sido criada mais a pensar nos bonecos de peluche a que vai dar origem…
Esperemos que num próximo álbum, os autores possam encontrar uma voz própria e prosseguir a renovação dentro da continuidade, que neste álbum, ainda é demasiado tímida. Assim Uderzo e a editora lhes deem oportunidade para isso…
(“Astérix entre os Pictos”, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, Edições Asa, 48 pags, 12,90 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 02/11/2013