terça-feira, 29 de novembro de 2011

Dog Mendonça: capa da edição americana e novo trailler - ACTUALIZADO

Julgo que não será grande novidade que o 1º volume das aventuras de Dog Mendonça, de Filipe Melo e Juan Cavia vai ser editado nos EUA pela Dark horse em 2012. O que é novidade é a capa da edição americana, que vai ser lançada em 23 de Maio de 2012. A capa, que vai ser usada também na edição brasileira da Devir, a editar em Setembro de 2012, começou a ser pensada em minha casa, depois das sessões de autógrafos que Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa deram em Coimbra no dia 9 de Novembro, pelo que é com especial prazer que aqui divulgo a versão final.
Também já está on-line o trailler que João Alves, o premiado realizador de Bats on the Bellfry, criou para o 2º volume da série e que conta com Nicolau Breyner (que esteve para fazer de Dog Mendonça quando Filipe Melo ainda pensava contar a história em filme) a dar finalmente a voz a Dog Mendonça, num divertido vídeo, que deve ser visto até ao fim (a não ser que se goste de tunas..)

domingo, 27 de novembro de 2011

As Cidades de Ricardo Cabral

Depois de “Israel Sketchbook” e “Newborn: Dez Dias no Kosovo” o desenhador viajante Ricardo Cabral regressa às suas histórias de viagens, desta vez com uma recolha de cinco histórias curtas, desenhadas entre Janeiro de 2009 e Janeiro de 2011, tendo diversas cidades como cenário e protagonistas.
São cinco histórias soltas, duas inéditas e três outras feitas originalmente para diferentes locais, mas que resultam num todo orgânico e coerente, que funciona como uma evolução natural dos anteriores livros de viagens de Ricardo Cabral. Ou seja, o método de recolha de imagens e de trabalho é o mesmo, com o autor a fazer o desenho inicial no local, complementado com fotografia, que permite captar pormenores, como as cores, que o esboço inicial não regista e que servem de base ao posterior trabalho de cor digital.
Nesse aspecto, histórias como “5 Jours” e “Barcelona, Kosovo, Barcelona” funcionam como um pouco como making off dos anteriores livros de Ricardo Cabral, que tal como já tinha feito em “Newborn” decompõe as várias fases do seu método de trabalho, com imagens em que o desenho se mistura ostensivamente com a fotografia, ou outras em que apenas as personagens têm cor, deixando os cenários tal com os esboçou na altura no seu caderno Moleskin. Um caderno muito provavelmente semelhante aos acabados de lançar com um desenho seu do Porto de Barcelona, cuja imagem aparece reproduzida na página 74 do livro, e aqui reproduzo, numa óbvia auto-citação.
Num livro essencialmente realista, com uma forte carga autobiográfica, todo ele construído num registo de câmara subjectiva (o rosto do autor nunca aparece nos desenhos e o leitor vê apenas aquilo que o desenhador está ver e a desenhar), não deixa de ser curioso o toque fantástico dado pelas criaturas coloridas que parecem saídas de um filme de Miyazaki, como o elefante côr de rosa de Lodz, ou os deliciosos monstrinhos que invadem o Lisbon Studio durante a noite.
Para além de um livro muito bonito, que tem o mérito de reunir no mesmo sítio a produção dispersa de Ricardo Cabral, "Pontas Soltas – Cidades” é mais um importante passo no trajecto de um autor que, entre a Banda Desenhada e os cadernos de viagens, tem sabido construir uma obra singular e de grande qualidade.
(“Pontas Soltas – Cidades”, de Ricardo Cabral, Edições Asa, 92 pags, 17,95 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 26/11/2011

domingo, 13 de novembro de 2011

O Pequeno Deus Cego

Embora nos últimos anos se tenha dedicado mais à literatura do que à Banda Desenhada, David Soares viu ainda assim serem lançados no último Festival da Amadora, dois novos livros de BD escritos por si: “É de Noite que Faço as Perguntas” e o “Pequeno Deus Cego”. Se o primeiro já foi objecto de análise neste espaço, é chegada a altura de falar de “O pequeno Deus Cego”, mais um pequeno conto de terror de Soares, que a Kingpin edita, tal como fez com “Mucha”.
A ilustrar esta fábula de terror oriental, escrita por David Soares, está Pedro Serpa, um jovem desenhador que depois de uma participação no álbum colectivo “Sete Histórias em Busca de uma Alternativa”, assina aqui o seu primeiro trabalho de grande fôlego, ilustrando e colorindo uma história de 44 páginas, ambientada numa China mais mítica do que real. E, tal como tinha feito com Daniel Silvestre Silva em “É de Noite…” mais uma vez Soares dá a descobrir um novo desenhador cheio de potencial.
O traço “linha clara” e as cores planas de Serpa, adequam-se estranhamente a esta história cruel, mas o mais interessante é a forma como a história está planificada, com a divisão habitual da página em nove vinhetas, tão cara a David Soares, a dar por vezes lugar a vinhetas panorâmicas, que permitem um outro destaque ao traço de Serpa e a imagens de página inteira e até dupla página, que pontuam momentos importantes da acção, como a primeira vez que vemos o rosto da pequena Sem-Olhos, ou a espectacular imagem de Wang, o Castrador na sua caverna.
Embora o panda, a imagem do dragão e as mutilações dos pés, remetam para a cultura chinesa, o clima desta história cheia de elementos fantásticos, mas onde a verdadeira incarnação do mal é a mãe do protagonista, recorda mais o terror japonês, tanto da BD de Junji Ito, como do cinema de Takashi Miike.
Não sendo do melhor que David Soares já fez em BD, “O Pequeno Deus Cego” é um muito bem conseguido exercício de estilo, que revela em Pedro Serpa um novo desenhador a seguir com atenção.
(“O Pequeno Deus Cego”, de David Soares e Pedro Serpa, Kingpin Books, 84 pags, 10,95€ )
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 12/11/2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Dia 9, pelas 18h30m, eles vão estar na Dr Kartoon

Tal como aconteceu com o lançamento do 1º volume, Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa regressam à Livraria Dr Kartoon para uma sessão de autógrafos e lançamento do 2º volume das Aventuras de dog Mendonça e Pizzaboy. Se estiverem por Coimbra, apareçam! Vai ser uma tarde bem passada.
No dia seguinte, às 11h da manhã, os autores de Dog Mendonça vão estar em Guimarães, na ESAP, para uma aula/conferência dirigida aos alunos da Licenciatura de Banda Desenhada e Ilustração, mas aberta ao público em geral, interessado em perceber como se faz BD.

domingo, 6 de novembro de 2011

O regresso de Dog Mendonça

Lançado com estrondoso sucesso durante o Festival da Amadora, o 2º volume das aventuras de Dog Mendonça, prepara-se para conhecer o mesmo sucesso nas livrarias de todo o país. Orgulhoso representante de uma espécie rara na BD portuguesa, a dos heróis, o carismático detective/lobisomem criado por Filipe Melo, tem desta vez como missão evitar o fim do mundo, num percurso que o leva (e aos seus companheiros habituais) de Lisboa a Fátima, onde tem que enfrentar o anti-Cristo, com a ajuda de uma Bíblia infantil e de um demónio de seis mil anos, que finalmente mostra a sua verdadeira face.
Se a escala é muito mais épica do que no livro anterior, com pragas bíblicas, um monstro de sete cabeças na Rotunda do Marquês de Pombal, zombies e os quatro cavaleiros do apocalipse, a deixarem Portugal (ainda mais) de pantanas, o humor mantém-se em alta, ao serviço de uma história divertidíssima e que se lê de um fôlego. Se na primeira aventura, o destaque maior entre os secundários, ia para a gárgula (cujo verdadeiro nome é finalmente revelado) desta vez é Pazuzul a roubar o protagonismo, mesmo que ainda fique muito por contar sobre este demónio que se esconde no corpo de uma menina. Numa série que joga abertamente com o conhecimento do leitor da cultura pop, desta vez as referências ao cinema já não são tão dominantes, abrindo também espaço a homenagens ao mangá (o anti-Cristo e a sequência final em Fátima evocam o “Akira” de Katshuiro Otomo) e a piscadelas de olho a outros trabalhos de Filipe Melo, de I’ll See You in My Dreams” a “Um Mundo Catita”.
Em termos gráficos, são evidentes os progressos, tanto no traço de Juan Cavia, como nas cores de Santiago Villa, que assinam algumas páginas verdadeiramente espectacularese, a que a impressão do livro nem sempre faz justiça, com algumas páginas demasiado escuras e até, aparentemente desfocadas, o que é uma pena num trabalho com uma qualidade de produção altíssima.
Desde o Jim Del Mónaco de Louro e Simões, nos anos 80, que a BD portuguesa se tem caracterizado por ser uma BD de autor, o que tem dado origem a alguns trabalhos de grande qualidade, mas de impacto comercial bastante limitado. Por isso, são trabalhos como a muito bem conseguida homenagem de Filipe Melo e “sus muchachos” (os argentinos Juan Cavia e Santiago Villa) à BD e ao cinema de terror, que poderão levar o grande público a (re)descobrir a BD nacional. E este sucesso comercial evidente (o primeiro volume já esgotou 3 edições) não parece que vá ficar limitado a Portugal. Além de uma série de 4 histórias inéditas, que desvendam a origem de Dog Mendonça, feitas para a revista americana “Dark Horse Presents”, onde o trabalho de Filipe Melo e Juan Cavia surge ao lado de autores como Mike Mignola, Richard Corben, Neal Adams, ou Dave Gibbons, a preparar o caminho para a edição dos álbuns nos EUA, a Devir já adquiriu os direitos do 1º álbum para o mercado brasileiro.
Este sucesso comercial só é possível porque as pessoas sabem que a série existe, o que nem sempre acontece com muitas outras BDs de igual, ou até superior qualidade, mas que passam despercebidas nas livrarias. E isso deve-se a uma bem orquestrada campanha de divulgação, que engloba uma tournée pelo pais, que passa pela Livraria Dr Kartoon, no dia 9 de Novembro pelas 18h30m, mupis, um novo site e um trailler da BD em que Nicolau Breyner dá a voz a Dog Mendonça, tudo isto suportado pelo próprio Filipe Melo que, como a editora não tinha orçamento para este tipo de divulgação, em vez de se lamentar, decidiu ele próprio deitar mãos à obra, com o mesmo dinamismo e simpatia com que conseguiu convencer George Romero a assinar o prefácio do 2º volume.
Pelo entusiasmo contagiante que trouxe a este projecto de Banda Desenhada, para o qual conseguiu arrastar pessoas de diversas áreas e por ter provado que é possível fazer BD comercial de qualidade no nosso país, com sucesso, Filipe Melo foi, muito provavelmente, das melhores coisas que aconteceram à BD portuguesa nos últimos anos!
(“As extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy II: Apocalipse”, de Filipe Melo e Juan Cavia, Tinta da China, 112 pags, 16,90 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 5/11/2011