segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tintin Regressa em Formato Reduzido


Preparando a chegada do filme de Steven Spielberg e Peter Jackson inspirado nas aventuras de Tintin, de que começam surgir as primeiras (e não muito entusiasmantes) imagens, as Edições Asa têm vindo a reeditar a mítica série de Hergé, numa nova edição, com nova tradução e um novo formato, mais reduzido, próximo do formato comic book americano, embora respeitando as proporções dos álbuns franco-belgas, mais largos do que as revistas americanas, que nas palavras da responsável de BD da Asa, se pretende mais "apelativo para um público mais novo".

Um regresso que obviamente se saúda, pois não fazia sentido a série não estar disponível em Portugal, tendo em conta a ligação entre Tintin e os leitores portugueses. Uma ligação de mais de 70 anos, pois, embora só no final dos anos 80 tenha sido possível ler álbuns de Tintin escritos no português de Portugal, pois a editora brasileira Record detinha todos os direitos de publicação para a língua portuguesa, Portugal foi o primeiro país não-francófono a publicar as aventuras de Tintin. E isso aconteceu a partir de Abril de 1936 no Papagaio, revista dirigida por Adolfo Simões Muller, onde Tintin apareceu a cores, numa altura em que na própria Bélgica as suas histórias ainda eram publicadas a preto e branco, tornando-se rapidamente num dos símbolos da revista, com participações especiais em outras séries, como o fabuloso Boneco Rebelde, de Sérgio Luís. Como era hábito na época, o herói da poupa loura foi naturalizado português e assim Tintin, de jovem repórter belga do jornal Petit Vingtiéme passou a repórter português da revista Papagaio, enquanto o cachorro Milou foi rebaptizado Ron-Ron e o Capitão Hadock ganhou o nome bastante mais português de Capitão Rosa. Do mesmo modo, o álbum Tintin no Congo foi transformado em Tintin em Angola, numa deliciosa versão em que é feita a apologia da colonização portuguesa em Angola.
Além disso, a versão portuguesa da revista “Tintin” publicou as restantes aventuras do repórter criado por Hergé, incluindo a primeira de todas, o datado “Tintin no País dos Sovietes”.que ficaria incompleto com o fim da revista, em 1982.

O novo formato, feito a pensar num público mais novo, mais habituado ao formato “comic book”, nem funciona mal, sobretudo porque a “linha clara” de Hergé, aguenta perfeitamente a redução sem perder legibilidade. Pena foi, como salientaram, em sítios diferentes, João P. Boléo e Leonardo De Sá, que se tenha perdido a oportunidade de incluir nesta edição, a prancha “perdida” de “Tintin no País dos Sovietes”, que embora publicada no jornal “Le Petit Vingtième”, não foi incluída nas edições em álbum, apesar de ter sido publicada no 1º volume da série “Archives Hergé”.
Depois dos seis primeiros volumes, editados em Outubro, seguindo a ordem cronológica da série, este mês já foram editados mais seis títulos, prevendo-se que toda a colecção de 24 álbuns esteja disponível no mercado até Outubro de 2011, mês em que se espera a estreia da adaptação de Tintin ao cinema.
(“As Aventuras de Tintin” de Hergé, Edições Asa, 64 pags, 8,90 € cada volume)
Versão integral do texto publicado no "Diário As Beiras" de 13/11/2010

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