sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Corto Maltese: Mu, A Cidade Perdida


Actual detentora dos direitos de publicação da série “Corto Maltese” para Portugal, a Asa iniciou a publicação da série com aquela que é a última aventura do marinheiro criado por Hugo Pratt, o álbum “MU”, que depois de uma edição em capa dura exclusiva da FNAC, chega ao restante mercado livreiro na edição em capa mole.
Publicada originalmente em Portugal, em 2004, numa edição a preto e branco em três volumes, distribuída com o jornal “Público”, “Mu” traz Corto de regresso ao Oceano Pacífico de cujas águas surgiu pela primeira vez em “A Balada do Mar Salgado”, numa aventura em que regressam vários personagens emblemáticos da série, como Boca Dourada, Tristan Bantan, o professor Steiner, Levi Colombia, Soledad Lokaarth e o índio Jesus-Maria, para além do inevitável Rasputine.
Se o cenário e as personagens nos remetem para os primeiros álbuns da série, de “A Balada do Mar Salgado” a “Sob o Signo do Capricórnio”, é nítida uma evolução no comportamento de Corto e no traço de Pratt, longe do virtuosismo de outros tempos e com uma rigidez que a cor lá vai de algum modo disfarçando. Depois de na aventura anterior, “As Helvéticas”, Corto ter passado a história toda a dormir num quarto na Suiça, onde já tinha estado Herman Hesse, não passando a aventura de um sonho, em “Mu”, Pratt regressa à aventura em locais exóticos, mas a fronteira entre o sonho e a realidade continua difusa e tanto Corto como Rasputine passam grande parte da história a dormir e/ou a sonhar…
Os grandes temas da obra de Pratt estão cá todos, mas a acção já não flui da mesma maneira, tal como os diálogos, não obstante uma excelente sequência inicial . Ou seja, Pratt tenta voltar ao passado, mas apesar das piscadelas de olho à sua própria obra, desde o encontro com o Monge, que não é o da “Balada do Mar Salgado”, às borboletas que Corto segue, que podiam ser as de “A Macumba do Gringo”, ou de “Corto Maltese na Sibéria”, este Corto Maltese já não tem, quanto a mim, o charme dos velhos tempos, parecendo mais uma obra de um imitador esforçado, do que do próprio Pratt.
Mas, mesmo não sendo “vintage” Pratt, muito longe disso, este não deixa de ser um trabalho importante na obra do mestre veneziano, que convoca a maioria das personagens da série para esta última aventura de Corto Maltese, bem servido por uma excelente edição, que tem, como (grande) senão, o preço escandalosamente alto para a realidade portuguesa.
(“Corto Maltese: MU, a Cidade Perdida”, de Hugo Pratt, Edições Asa, 200 pags, 30,79 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 16/09/2010

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