quinta-feira, 24 de junho de 2010

Os Filmes da minha Vida: do Cinema para a BD


Não têm faltado neste espaço textos sobre adaptações de Bandas Desenhadas ao cinema, especialmente nos últimos anos, em que os estúdios de Hollywood (e não só) descobriram na Banda Desenhada um filão inesgotável de histórias e personagens. Mas o ponto de partida deste texto, dedicado à colecção “Os Filmes da Minha Vida” é precisamente o oposto, pois incide sobre uma colecção de BDs de autores portugueses inspiradas pelos seus filmes favoritos, dirigida por Tiago Manuel, com arranjo gráfico, bastante minimalista, de Luís Mendonça.
Com sete títulos publicados até ao momento, esta colecção de livrinhos de 32 páginas a preto e branco, editada pela Associação Cultural Ao Norte, traz além da BD inspirada pelo filme escolhido pelo autor, um texto de João Paulo Cotrim sobre o respectivo autor e a filmografia do realizador cujo filme foi objecto de adaptação. Até agora, as abordagens têm sido as mais diversas, como diversa é a personalidade dos autores envolvidos, nem todos oriundos do meio da Banda Desenhada. Em “O Percutor Harmónico”, primeiro volume da colecção, André Lemos, no seu estilo muito próprio, revisita, sem grande sucesso, a magnífica cena inicial de “Aconteceu no Oeste”, de Sérgio Leone, já Daniel Lima em “Epifanias do Inimigo Invisível” escolhe o filme de Valério Zurlini (a partir de um romance de Dino Buzzati) “O Deserto dos Tártaros”. Jorge Nesbitt, que recupera “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman, encena o encontro entre o cruzado e a morte, omitindo aquela que é a cena mais conhecida do filme, a do jogo de xadrez.

João Fazenda, naquele que é, até agora, o meu título favorito desta colecção, reinterpreta o “Vertigo” de Hitchcock, utilizando a página como um espelho em que acompanhamos duas narrativas paralelas, que acabam por se cruzar, repetindo o destino da “Mulher que Viveu Duas Vezes” (título português do filme) interpretada por Kim Novak.
Filipe Abranches, em “Fitz…” recolhe numa série de ilustrações em que a luz e a sombra se degladiam, o percurso de Fitzcarraldo, contado por Werner Herzog no filme do mesmo nome, que valeu a Klaus Kinsky mais uma memorável interpretação. Outra muito conseguida interpretação, é a de Catherine Deneuve, em “Repulsa”, de Roman Polansky, filme escolhido por Alice Geirinhas,para num estilo entre o infantil e o perverso, nos contar a intriga do filme (este é o único caso em que um autor opta por resumir a história do filme)misturando-a com as suas recordações de infância relacionadas com o filme. Por último, Tiago Albuquerque em “O Dragão Ataca”, último título da colecção até ao momento, pega num filme com Bruce Lee, para uma divertida homenagem, sem tradução, aos filmes de Kung Fu.
(“Os Filmes da Minha Vida”, vários autores, Ao Norte, 32 pags, 3€ cada volume. 7 volumes publicados)
Versão integral do texto originalmente publicado no Diário As Beiras de 19/06/2010

sábado, 19 de junho de 2010

Fábio Moon e Gabriel Bá


Nem todos se podem gabar de, em pouco mais de 10 anos, passarem de um fanzine semanal fotocopiado, vendido junto dos amigos, para o catálogo das principais editoras americanas, como a Vertigo (ramo adulto e autoral, da poderosa DC Comics), Dark Horse e Image, mas é esse o percurso de Fábio Moon e Gabriel Bá, dois autores brasileiros, irmãos gémeos desde 1976, que juntos, ou separados, se têm afirmado como dos mais importantes autores da actualidade.

Interessados desde a infância pela Banda Desenhada, Moon e Bá formaram-se em Artes Plásticas em Faculdades diferentes, mas a vontade de contar histórias em Banda Desenhada já existia antes disso, embora se resumisse a histórias soltas e a experiências efémeras em fanzines. O verdadeiro início da carreira da dupla dá-se em 1996, numas férias na Califórnia em que conhecem Shane Amaya, argumentista que os convida a colaborar com ele numa história medieval chamada "Roland", desenhada por Moon e colorida por Bá, que acabaria por só ser publicada quatro anos depois, em 2000, graças a uma Bolsa da Xeric Foundation.
Ao mesmo tempo que começam a trabalhar em ROLAND, Moon e Bá decidem criar um fanzine semanal, com histórias curtas, de poucas páginas, para venderem aos amigos. Inicialmente, o fanzine era suposto chamar-se "2B or not 2B", mas Laerte, que tinha sido convidado para fazer uma página de BD por nº, achou que o nome em inglês não tinha nada a ver com os autores e com as histórias que eles queriam contar. Foi então que decidiram mudar o nome para “10 Pãezinhos”.
Depois de algumas histórias curtas, a dupla decide aventurar-se em histórias de maior fôlego, como “O Girassol e a Lua”, publicada em 7 capítulos no fanzine “10 Pãezinhos”, que para o efeito aumentou o número de páginas e duplicou a tiragem, entregando a distribuição a nível nacional à Devir, então especializada na importação e distribuição de comics americanos e jogos de tabuleiro. Posteriormente, as histórias publicadas em “10 Pãezinhos” foram sendo recolhidas em livro, como aconteceu com “O Girasol e a Lua” e “Meu Coração Não Sei Porquê (publicada nos EUA com o título Úrsula”), enquanto a dupla ia procurando alargar a sua presença no mercado americano, de modo a conseguir viver da BD.
Conforme refere Gabriel Bá, no Blog da dupla esse processo de internacionalização foi acontecendo de modo natural: “ um trabalho chama o outro (no caso, um quadrinho independente que fizemos, o ROCK'n'ROLL, chamou a atenção do editor da Image, que nos colocou em contato com o Matt Fraction, e desse contato fizemos o CASANOVA, que chamou a atenção do Scott Allie, editor da Dark Horse, que nos colocou em contato com o Gerard Way, e daí veio o Umbrella Academy, que foi o primeiro trabalho de Quadrinhos que pagava nossas contas).”
Escrito por Gerard Way, vocalista dos My Chemical Romance, "Umbrella Academy" foi o trabalho que mais contribuiu para a popularidade de Gabriel Bá nos EUA, mas tal como acontece com "Casanova", de Matt Fraction, série desenhada sucessivamente pelos dois irmãos, ou com "BPRD 1947", a série paralela ao universo de Hellboy de Mike Mignola, é mais uma série em que os dois irmãos, que têm muitas histórias para contar e sabem muito bem como o fazer, despendem o seu talento a contar as histórias de outros. O que já não acontece em "DE: Tales", uma colectânea de histórias da série “10 Pãezinhos”, publicada pela Dark Horse.
Mas a melhor maneira de descobrir o universo de Gabriel Bá e Fábio Moon, para além das edições brasileiras de “10 Pãezinhos” que a Devir distribuiu em Portugal (Fanzine, Crítica e Mesa para Dois) é através da série "Daytripper", uma série em 10 volumes, em publicação pela Vertigo, de que já saíram, no momento em que escrevo este texto, cinco edições. Definida muito simplesmente pelos seus autores como “uma história sobre a vida”, cada capítulo de Daytripper incide sobre um momento específico da vida de Brás de Oliva Domingos, o filho de um escritor famoso que ser ele próprio também escritor, e sobre a forma como as escolhas que faz podem modificar a sua vida.
Intimista e surpreendente, Daytripper mostra a dupla ao seu melhor nível, numa história profundamente brasileira nos cenários e nas personagens, mas que lida com questões universais. Numa entrevista sobre as influências literárias por trás de Daytripper, a dupla fala de Jorge Amado, Will Eisner, Fernando Pessoa, João Guimarães Rosa e Machado de Assis. De todas estas influências, a de Machado de Assis, escritor do século XIX, contemporâneo do nosso Eça de Queirós, é a mais evidente e a mais constante em toda a obra da dupla, que adaptou à BD o conto "O Alienista", de Machado de Assis. Não só Brás, o protagonista de Daytripper tem o mesmo nome que outro Brás, o das Memórias Póstumas de Brás de Cubas, um dos mais célebres romances de Assis, mas também pela forma como termina cada capítulo, Daytripper podia perfeitamente ter como sub-título, As Memórias Póstumas de Brás de Oliva Domingos…
Texto originalmente publicado no Splaft! nº 6, revista/Catálogo do Festival de BD de Beja, em Maio de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Com Hellboy, em Terras Estranhas


Hellboy, o popular demónio detective criado por Mike Mignola, regressa às livrarias portuguesas com “Terras Estranhas” o sexto volume da série com que a Editora dinamarquesa G Floy prossegue o trabalho de divulgação da obra de Mignola iniciado pela Devir.
“Terras Estranhas” recolhe duas mini-séries, “O Terceiro Desejo” e “A Ilha”, publicadas originalmente entre 2002 e 2005, desenhadas por Mignola numa fase em que outros factores, como o 2º filme de “Hellboy”, o impediram de desenhar Hellboy com a regularidade que queria e que o obrigou posteriormente a entregar o desenho da série a artistas como Duncan Fegredo e Richard Corben, responsáveis pelos próximos volumes de “Hellboy”, ficando-se Mignola pela ilustração das capas e o desenho de uma ou outra história curta, como “In the Chapel of Moloch”, aventura que leva Hellboy até uma capela assombrada em Tavira, na costa Algarvia.
Aqui já liberto dos seus companheiros do BPRD (Bureau for Paranormal Research and Defense), uma organização governamental tipo X-Files, criada para a investigação de fenómenos paranormais, cujas investigações são relatadas na série paralela, dedicada ao BPRD, entretanto criada sob a supervisão de Mignola, Hellboy parte para África, iniciando uma viagem que o levará primeiro ao fundo dos mares e depois a uma ilha onde o espaço e o tempo se confundem, num périplo mágico que lhe permitirá a descobrir um pouco mais sobre a sua origem e o destino que lhe está reservado.
Apesar de passar o tempo todo ao soco com monstros de grandes dimensões, Hellboy, que se continua em encarar tudo o que lhe acontece com a maior das naturalidades, é aqui mais espectador do que interveniente de uma complexa intriga de dimensão cósmica, cujos desenvolvimentos só conheceremos em futuros livros e que implicam um conhecimento prévio dos acontecimentos dos volumes anteriores. Ou seja, tratando-se de um bom exemplo do alto nível que a série “Hellboy” pode atingir, “Terras Estranhas” está longe de ser o ponto de partida de ideal para quem só agora descobriu as aventuras de Hellboy.
Resta o grafismo inconfundível de Mike Mignola, cada vez mais simples e eficaz, magnífico no uso das sombras e na forma como com simples traços cria ambientes complexos e com uma atmosfera única, no que é muito bem secundado pelas cores discretas, mas tremendamente eficazes de Dave Stewart.
(“Hellboy: Terras Estranhas”, de Mike Mignola, Gfloy Studio, 136 pags, 16.0 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 12/06/2010

domingo, 13 de junho de 2010

Um punhado de Imagens do Festival de BD de Beja


No dia em que termina a 6ª edição do Festival de Banda Desenhada de Beja, pareceu-me interessante recuperar aqui algumas imagens do primeiro fim-de-semana do Festival, aquele em que estuveram presentes a maioria dos autores. Cada vez mais importante, até em termos da edição nacional (basta ver a quantidade de títulos que foram apresentados durante o Festival) Beja continua com uma programação que concilia autores consagrados com nomes mais alternativos, dando grande destaque à produção nacional.
Além disso, é o Festival nacional que possibilita um contacto mais próximo entre os autores e o público, um pouco na linha do que acontece em espanha, com Festivais como Gijon e a Corunha, contando com a simpatia natural das gentes do Alentejo e a excelente comida (e melhor bebida) da região.
Apesar da zona histórica da cidade convidar a um passeio a pé, continuo a achar que a aposta em descentralizar as exposições não resulta inteiramente, seja porque algumas estavam em locais difíceis de encontrar (The Lisbon Studio), seja porque estavam fechadas (Kingpin Books - no Conservatório Regional do Baixo Alentejo, onde, tal como no ano anterior, bati com o nariz da porta...)
Dos autores presentes, a grande surpresa foi Hippolyte, autor francês que desconhecia, mas cuja qualidade e versatilidade do trabalho me surpreendeu. Um autor a descobrir urgentemente. Também Hermann, que só foi pena não ter exposição, contrariou a fama de autor com mau feitio, revelando-se muito simpático e disponível durante todo o fim de semana, para além de ter protagonizado um divertidíssimo encontro com o público. Curioso foi também ver a sua empatia com Civitelli que, graças à incansável persistência de José Carlos Francisco deu origem a uma cross over entre Red Dust e Tex, num desenho feito a meias pelos autores belga e italiano.

Quanto a Civitelli, que com a ida a Beja, fez o pleno dos Festivais nacionais, voltou a arrastar consigo um legião de fãs do Tex, que não quiseram perder a oportunidade de ver os originais da história que está a desenhar para o próximo "Texone".
Os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, cujo trabalho admiro há anos, foram também um dos merecidos destaques do Festival, com uma excelente exposição e um animado encontro com o público. e como trouxeram com eles algumas edições brasileiras que não tiveram distribuição em Portugal, tive também oportunidade de adquirir a adaptação que eles fizeram de "O Aleanista", de Machado de Assis, um dos meus escritores brasileiros favoritos.
Dos restantes autores estrangeiros, Dame Darcy confirmou que é melhor a fazer BD do que como cantora..., Rufus Dayglo, além de um excelente desenhador, revelou ter a BD (literalmente) à flor da pele, Niko Henrichon, desenhador do magnífico "Fábula de Bagdad" fez-me o melhor desenho da minha colheita de autógrafos de BEja 2010 e Igor Hofbauer confirmou que o seus estilo funciona melhor nas ilustraçãos soltas (tinha alguns excelentes posters para venda) do que na BD.
Dos portugueses, foi pena que João Fazenda não tenha acompanhado a sua exposição e que Jorge Coelho não tenha ainda um álbum editado em Portugal, pois é um dos melhores desenhadores nacionais, cujo estilo evoluiu bastante, como se pode ver na exposição que lhe foi dedicada. Excelente também a exposição do Lisbon Sutudio e os trabalhos de Regina Pessoa e João Vaz de Carvalho. Já as mostras de Jorge Miguel e Miguel Rocha, sofrem do problema de não haver originais para expôr, apenas reproduções digitais...
Acima de tudo, foi um fim-de-semana muito bem passado, que me deu oportunidade de rever alguns amigos da "tribo da BD", como bem lhe chamou o Machado-Dias e conhecer pessoalmente alguns autores cujo trabalho admiro.

Exposição de Regina Pessoa

Exposição de JCoelho

Exposição do Lisbon Studio

Interior da Exposição do Lisbon Studio

Niko Herinchon a desenhar o meu autógrafo

terça-feira, 8 de junho de 2010

Hans, o Cavalo Inteligente de Miguel Rocha


Das novidades editoriais lançadas durante o último Festival de Beja, aquela aguardada com maior expectativa, era o livro “Hans, o Cavalo Inteligente”, título escrito e desenhado por Miguel Rocha, que assinala o regresso da Polvo à edição. Depois do sucesso, crítico e comercial, de “Salazar” e de “A Noiva que o Rio Disputa ao Mar”, uma encomenda institucional da Câmara de Portimão, ainda sem distribuição comercial, ambos escritos por João Paulo Cotrim, Miguel Rocha volta a assinar os seus argumentos, com este “Hans, o Cavalo Inteligente”.
Antes de ser uma Banda Desenhada, Hans… foi uma produção teatral do Projecto Ruínas, de Montemor o Novo, com quem Miguel Rocha costuma trabalhar, tendo o texto da peça, escrito por Francisco Campos, servido de base à adaptação. Essa origem teatral é bem visível na forma como a BD está dividida, com cada capítulo a corresponder a cada um dos cinco actos da peça e a cortina, que se abre no início do primeiro capítulo e fecha no final, acentua essa dimensão teatral.
Graficamente, o trabalho de “Hans, o Cavalo Inteligente”, está na linha do registo utilizado em “Salazar”, com um complexo trabalho de preto e branco (realçado pela impressão a duas cores) e um uso repetido de padrões (as cortinas do primeiro capítulo e o papel de parede do capítulo 3) que ajuda a criar o ambiente. Embora longe da espectacularidade das cores de “Beterraba”, ou de “A Noiva que o Rio Disputa ao Mar”, o preto e branco tratado digitalmente de “Hans, o Cavalo Inteligente” confirma o virtuosismo gráfico de Miguel Rocha, embora o tratamento quase impressionista de algumas imagens e sombras, deixe intuir, mais do que ver, o que se está a passar.
A névoa que invade as imagens tem correspondência no argumento, também ele pouco linear e construído em torno de flash-backs. Em “Hans…” todos os detalhes contam, desde as personagens de “freak show” que aparecem nas badanas, e que devem pertencer ao espectáculo que vemos no primeiro capítulo, até aos anúncios de época no final do livro (na linha do que Alan Moore e Kevin O’Neill fizeram na “League of the Extraordinary Gentlemen”), que dão mais dados para a reconstituição de uma história muito pouco linear e contada em flash backs. Mais do que fornecer todos os dados, Miguel Rocha joga com a inteligência e curiosidade dos leitores. Resta é saber se não lhes estará a pedir demais…
(“Hans, o Cavalo Inteligente”, de Miguel Rocha, Edições Polvo, 96 pags, 12,90 €)
Versão integral do texto publicado no Diário As Beiras de 5/06/2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dennis Hopper 1936 -2010


A notícia já era esperada, pois era do conhecimento público que Hopper tinha um cancro na próstata em estado terminal, e concretizou-se no passado dia 29 de Maio. Dennis Hopper faleceu aos 74 anos, na sua casa em Venice Beach, California. Conhecido, antes de mais, pelo seu trabalho no filme "Easy Rider", que realizou e interpretou, Hopper teve uma bela, embora acidentada, carreira que se iniciou ao lado de James Dean em "Rebel Without a Cause" e "The Giant", e que incluiu colaborações com cineastas como Francis Ford Coppola, David Lynch, Win Wenders e Sam Peckinpah, a par com trabalhos feitos apenas para ganhar dinheiro. Apesar do monumental abuso de alcool e drogas o ter feito perder alguns papeis, a verdade é que conseguiu sobreviver sem grandes estragos aos excessos das décadas de 60, 70 e 80.
Além de actor e realizador, Hopper foi também fotógrafo e pintor, para além de coleccionador de arte. De uma carreira que teve altos e baixos, feita entre o cinema e a televisão (Hopper foi o primeiro vilão da série "24", onde representou o papel do general sérvio Victor Drazen, papel que retoma na mini-série em BD "24: Nightfall", que funciona como uma prequela à primeira temporada de 24) recordo especialmente o fotógrafo janado em "Apocalipse Now" e principalmente Frank Booth, o inesquecível vilão de "Blue Velvet", de David Lynch, que lhe valeu uma série de prémios e nomeações e o ser escolhido depois como vilão de serviço em filmes tão diferentes como "Speed", "Super Mario" e "Water World".
Da sua carreira como realizador, mais do que o mítico "Easy Rider", retenho um filme menor, "The Hot Spot", um policial negro de uma sensualidade tórrida, em que Don (Miami Vice)Johnson, que aqui até parece um bom actor, se vê envolvido num triângulo amoroso com Virginia Madsen e Jeniffer Connelly.
Para fechar esta evocação de Denis Hopper, pareceu-me que não haveria nada melhor do que esta cena do filme True Romance, em que Hopper contracena com Christopher Walken, outro dos actores mais cool de Hollywood. Um filme escrito por Quentin Tarantino e realizado por Tonny Scott, com um elenco impressionante, que inclui, além de Hopper e Walken, Gary Oldman, Samuel L. Jackson, James Gandolfini (o Tony Soprano da série Os Sopranos), Patricia Arquette, Val Kilmer, Christian Slater, Chris Penn e Brad Pitt, no papel mais anti sex simbol de toda a sua carreira. Fiquem então com esta cena, com diálogos que são vintage Tarantino.