terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Um Gato como o do Simon


É relativamente comum uma série de tiras cómicas ser transposta para a animação, face ao seu sucesso nos jornais, ou em livro. Dos “Peanuts”, a “Garfield”, ou a “Dilbert”, não faltam exemplos do género. O que já é menos vulgar é uma série de animação, nascida na Internet, dar origem a um livro de tiras, mas foi isso que aconteceu com “O Gato de Simon” de Simon Tofield, acabado de chegar às livrarias portuguesas numa edição da Objectiva, uma divisão literária nacional do grupo editorial espanhol Santillana.
Lançado em simultâneo em mais de 16 países, mesmo a tempo do Natal, “O Gato de Simon” tem tudo para ser um grande sucesso de vendas, também em Portugal, sobretudo tendo em conta o extraordinário sucesso das animações originais, que já tiveram mais de 45 milhões de visionamentos na Internet.
Animador na Tandem Films, um premiado estúdio de animação londrino, Simon Tofield teve a ideia para o primeiro filme de Simon’s Cat, “Cat Man Do”, uma vez em que o seu gato Hug o acordou, pondo-se a saltar em cima da cama e a miar, tentando chamar a atenção do dono para que já não tinha comida. Esse foi o ponto de partida para o filme, animado inteiramente pelo próprio Simon numa mesa gráfica, usando o programa Adobe Flash. Quanto o resultado final chegou ao You Tube, teve mais de 3 milhões de visionamentos em pouco tempo e ganhou o prémio para “Melhor Comédia” nos British Animation Awards, de 2008. Seguiram-se mais 4 filmes de animação, o último dos quais, “Hot Spot”, foi lançado em finais de Setembro deste ano, pouco antes da saída do livro.
Da passagem da animação para as tiras de BD, o “Gato do Simon” (a série ficou com esse nome, porque Simon não sabia que nome lhe dar e como todos os amigos se referiam ao protagonista dos filmes como “o gato do Simon”, essa designação acabou por pegar) manteve as suas principais características, graças ao traço muito simples, mas de grande expressividade e eficácia de Toliver e ao facto de ser uma série sem quaisquer diálogos, em que a acção é contada apenas com o recurso à imagem. Se algumas das histórias criadas para a animação são recontadas em tiras (embora em alguns casos, com perda de eficácia), as tiras permitem alargar o universo da personagem tirando-o de casa e levando-o para o jardim, onde interage com os pássaros e com uma daquelas estatuetas de um anão de jardim, que o gato do Simon trata como se tivesse vida, nas mais conseguidas tiras do livro, a par com algumas extremamente simples, como a tira que escolhi para ilustrar este artigo, em que o gato de Simon estraçalha alegremente um saco de papel, depois de se enfiar dentro dele.

A principal diferença entre o gato do Simon e outros felinos famosos, como o Garfield, ou o Mooch da série “Mutts”, é que o gato de Simon não fala nem temos acesso aos seus pensamentos, o que não nos impede de perceber exactamente o que ele quer, sobretudo se também tivermos um gato em casa…
Mas a força do “Gato de Simon” é também a sua limitação. É uma série feita por alguém que adora gatos (além do Hugh, Simon Tofield tem mais 3 gatos) com que as pessoas que têm gatos se identificam imediatamente, mas que deixa razoavelmente indiferente, ou admirado com a passividade de Simon e com vontade de meter o gato no micro-ondas, aqueles que não gostam de gatos.
No meu caso, como feliz tratador de um casal de gatos (já há muito que perdi as ilusões de que sou dono deles) devo confessar que adorei os filmes e o livro de Simon Tofield, que me parece a prenda de Natal ideal para quem tiver gatos.


(“O Gato do Simon”, de Simon Tofield, Objectiva, 238 pags, 14 €
http://www.simonscat.com)

Texto originalmente publicado no Diário As Beiras de 5/12/2009

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